sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É NATAL...


1. «Um menino nos nasceu,
um filho nos foi dado» (Is 9,5)
Renova-se hoje o mistério do Natal:

Este Menino, que traz a salvação ao mundo,
nasce também para os homens da nossa época;
nasce, portanto, paz e alegria para todos.


Comovidos, nos aproximamos do presépio,
para encontrar, junto com Maria,
o Desejado de todos os povos, o Redentor do homem.

Cum Maria contemplemur Christi vultum.
Com Maria contemplamos o rosto de Cristo:
naquela Criança, envolvida em panos
e recostada na manjedoira (cf. Lc 2,7),
é Deus que vem-nos visitar para guiar
nossos passos no caminho da paz (cf. Lc 1,79).

Maria O contempla, acaricia-O e O aquece,
interrogando-se sobre o sentido dos prodígios
que envolvem o mistério do Natal.

2. Mistério de alegria é o Natal!

Os Anjos cantaram na noite:
«Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens do Seu agrado» (Lc 2,14).

Os pastores descreveram o acontecimento
como «uma grande alegria para todo o povo» (Lc 2,10).

Alegria, apesar da casa distante,
da pobreza na manjedoira,
da indiferença do povo,
da opressão do poder,
Mistério de alegria apesar de tudo,
porque na cidade de David
«hoje nasceu um salvador» (Lc 2,11).

Da mesma alegria participa a Igreja,
repassada, hoje, pela luz do Filho de Deus:
as trevas jamais poderão obscurecê-la.
É a glória do Verbo eterno,
que fez-Se um de nós por amor.

3. Mistério de amor é o Natal!

Amor do Pai, que enviou ao mundo
o seu Filho unigénito,
para doar-nos a sua mesma vida (cf. 1 Jo 4,8-9).
Amor do «Deus connosco», o Emanuel,
vindo à terra para morrer na Cruz.

Na gélida cabana, envolvida no silêncio,
a Virgem Mãe, com o coração aflito,
já sente o drama cruento do Calvário.

Será uma luta dramática entre as trevas e a luz,
entre a morte e a vida, entre o ódio e o amor.
O Príncipe da paz, nascido hoje em Belém,
dará a sua vida no Gólgota
para que na terra reine o amor.

4. Mistério de paz é o Natal!

Desde a gruta de Belém
eleva-se hoje um apelo urgente
por que o mundo não ceda
à desconfiança, à suspeita, ao desânimo,
mesmo quando o trágico fenómeno do terrorismo
aumente incertezas e temores.

Os crentes de todas as religiões,
junto aos homens de boa vontade,
banindo toda a forma de intolerância e discriminação,
são chamados a construir a paz:
antes de mais, na Terra Santa, para freiar de uma vez
a inútil espiral de violência cega, e no Oriente Médio,
para apagar os sinistros clarões de um conflito,
que, com o empenho de todos, pode ser evitado;
depois, na África onde carestias devastantes
e trágicas lutas intestinas agravam as condições
já precárias de inteiros povos,
apesar de não faltarem sinais de otimismo;
na America Latina, na Ásia, em outras partes do mundo,
onde crises políticas, económicas e sociais
perturbam a serenidade de muitas famílias e nações.

Acolha a humanidade a mensagem de paz do Natal!

5. Mistéro adorável do Verbo encarnado!

Junto a Vós, ó Virgem Mãe, ficamos a pensar
diante da manjedoira donde jaz o Menino,
para partilhar do vosso mesmo assombro
diante da imensa condescendência de Deus.

Dai-nos vossos olhos, ó Maria, para decifrar o mistério
que se esconde nos frágeis membros do Filho.
Ensinai-nos a reconhecer a sua face
nas crianças de toda raça e cultura.
Ajudai-nos a ser testemunhas credíveis
da sua mensagem de paz e de amor,
para que também os homens e as mulheres
da nossa época, marcada ainda
por fortes contrastes e incríveis violências;
saibam reconhecer o Menino
que está nos vossos braços
o único Salvador do mundo,
fonte inesgotável da paz verdadeira
que, no íntimo, anseia todo coração.
Mensagem de Natal do Papa João Paulo II, Natal de 2002
Fonte Ecclesia

domingo, 27 de novembro de 2011

TEMPO DO ADVENTO

Finaliza-se mais um ano litúrgico e inicia o Advento.
A primeira vinda já aconteceu. A segunda ainda não.
O que fazer entre uma e outra?


Texto: Postulantes das Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria

O primeiro significado do advento não é o de preparar o Natal porque Jesus já nasceu. O novo povo de Deus, que somos nós, está encarregado de preparar a segunda vinda. A preparação para a primeira vinda do Salvador foi acontecendo dentro da história do povo “escolhido por Deus”, o povo de Israel. A preparação para a segunda vinda vai acontecendo também dentro da história da humanidade toda. Não é mais um só povo que prepara a vinda de Cristo, é toda a humanidade.

Todos os acontecimentos da história nos revelam a presença de Deus em meio ao seu povo. Nós precisamos ter sensibilidade para ir descobrindo nos acontecimentos os sinais de Deus. É o tempo de voltarmos para Deus que nos ama e que está bem perto de nós. É tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança, esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das perseguições.

João Batista é uma figura marcante do advento, ele anunciou que a salvação é a remissão de todos os pecados não é por méritos humanos e sim resultado de imensa misericórdia de Deus. Por seu impressionante e vigoroso testemunho de adesão a Cristo cedeu lugar ao Messias na corajosa tomada de posição: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua”. João Batista anunciava Cristo já presente no meio do povo, ele foi o último dos profetas do antigo testamento e o primeiro do novo testamento. Todos os profetas anunciaram o Cristo que viria e João anunciou o Cristo já chegado.

Os que se comprometem com o projeto de Deus têm em João Batista um exemplo acabado de pessoa comprometida e consequente com seu compromisso. Somos chamados à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança da sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas nossas próprias vidas, lutando incessantemente contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na palavra.

Coroa do advento
O que é?

A coroa do advento contém uma linguagem de silêncio, mas que fala forte através do círculo, da luz, das cores, dos gestos correspondentes... É preparada com ramos de cipestre, de pinheiro ou de outra árvore ornamental que lembra a esperanã cristã, alimentada com a proximidade do Natal e quatro velas que vão sendo acesas a cada domingo.

Origem.

Surgiu na Alemanha, no século XIX, ao Norte. Os colonos, para comemorarem a chegada do Natal, a noite mais fria do ano, acendiam fogueiras e sentavam-se ao redor. Mais tarde, não podendo acendê-las dentro de casa, tiveram a idéia de tecer uma coroa de ramos de abeto (uma espécie de pinheiro), enfeitando-a com flores e velas.

A forma circular

A coroa de forma circular significa sem começo e sem fim. É sinal do amor de Deus, que é eterno, é também da nossa initerrupta dileção ao Criador e a o próximo. A circularidade está ligada à perfeição. O redondo cria harmonia, junta, une. Lembra-nos, que somos integrantes de um mundo circular, onde o processo do universo e da vinda é cíclico: o círculo do ano, do tempo, o ir e vir da história, sempre marcado pela presença daquele que é a luz do mundo.

As velas

No advento, a cada domingo, acende-se uma vela da coroa. De uma a uma, a luz vai aumentando, até chegar na grande festa da luz que proclama Jesus Cristo como Salvador, Sol do nosso Deus que nos veio visitar, que armou sua tenda entre nós. A luz das velas simboliza a nossa fé e nos leva à oração, e simbolizam as quatro manifestações de Cristo:

Encarnação, Jesus Histórico;
Jesus nos pobres e necessitados;
Jesus nos Sacramentos;
Parusia: Segunda vinda de Jesus.

Cores

1° Domingo – Vela verde: Significa esperança, simboliza a alegria do Rei David, que celebra a aliança e sua continuidade.

2° Domingo – Vela branca: significa paz, pureza e vitória; simboliza o perdão a Adão e Eva.

3° Domingo – Vela rosa: significa alegria, antecede o natal, representa o ensinamento dos profetas que anunciaram um reino de paz e de justiça. Durante o advento prevalece a cor roxa, simbolo da interiorização, expectativa, angustia da espera, recolhimento.

4° Domingo - Vela vermelha: significa o sangue derramado, o Espírito Santo, o amor, representa a fé dos patriarcas, os quais creram no dom da terra prometida.

Boa preparação para o Natal!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Irmã Viviana e o MOVIMENTO ESCALADA

O MOVIMENTO

O Movimento Escalada foi introduzido na Paróquia São José (Osvaldo Cruz – SP), em 1984 pelo saudoso Padre José Maria Louvera, e, desde então, estamos realizando nossos encontros sempre com mais de 50 jovens, aqui e pelo país, bem como fazendo semanalmente nossas reuniões, com um comparecimento médio também de 50 jovens.

O Movimento tem como objetivo o aprofundamento dos seguintes valores:

a) Personalidade:

– Descoberta da natureza;
– Descoberta do próprio Eu e sua MISSÃO –
VOCAÇÃO;
– Descoberta do outro;

b) Família e Igreja;

c) Deus – Jesus Cristo – Eucaristia.


Proporciona também ao adolescente um clima favorável para experimentar um tempo forte na sua formação humana e religiosa.
Tem ainda como metas promover o intercâmbio de adolescentes com 15 anos ou mais, de diferentes grupos, localidades e classes sociais, além do exercício experimental de vivência do momento presente.

Hoje, após 27 anos de contínua existência, somos mais de 2.500 alpinistas em nossa Paróquia que, por três dias, abriram seu coração e mente para ouvir, refletir e partilhar sobre as coisas da natureza, família e Deus, deixando os prazeres momentâneos e efêmeros da vida para buscar algo mais concreto, que realmente valesse e valha a pena.

No início, em 1984, eram aproximadamente apenas 30 jovens imbuídos de vontade, e tal vontade foi sendo multiplicada, sempre valorizando a unidade e partilhando a fraternidade, numa verdadeira, sincera e pura amizade. Hoje, com certeza, o resultado daquele esforço foi e está sendo recompensado, afinal, já foram realizadas em nossa Paróquia 47 escaladas, sendo a última em 29 e 30 de abril e 1º de maio e já estamos prontos para a 48ª Escalada no mês de setembro.

O Movimento foi e é importante para todos, desde os inúmeros jovens que por ele passaram e também para a comunidade, afinal como o próprio nome diz é um constante movimento, onde não ficamos parados, estando sempre a procura do aperfeiçoamento interior, do auxílio àqueles que necessitam e também, por consequência, auxiliando toda a comunidade, afinal busca-se sempre a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Não se pode deixar de citar a frase: “Vale a pena investir no jovem”, a qual era constantemente expressa pelo Padre José Maria, sendo repleta de sabedoria, afinal completando 27 anos de existência confirma-se que realmente é fundamental investir e crer nas capacidades e talentos de nossos jovens e, tenham a certeza, que continuaremos investindo e escalando.
Fonte: http://escaladaocz.blogspot.com
Testemunho da Irmã Viviana


“Como Missionária dos Sagrado Corações de Jesus e Maria, já há dois anos faz parte de meu trabalho acompanhar os jovens do MOVIMENTO ESCALADA, nos dois retiros que realizam por ano, em uma fazenda na região de Osvaldo Cruz, como diretora espiritual e organizadora da liturgia. Neste ano, tivemos uma ESCALADA do dia 29 de abril ao dia primeiro de maio e outra de 23 a 25 de setembro.

Cada vez mais a procura para participar do MOVIMENTO ESCALADA vem aumentando. Neste ano tivemos a inscrição de 152 jovens e como todas as escaladas têm um número fixo de 53 jovens participantes, foi necessária a realização de um sorteio como critério para partipação.

Um abraço.
Ir. Viviana”

sábado, 5 de novembro de 2011

Irmã Giovana - Ser Missionária: receber mais do que dar...

“Através do nosso carisma nos sentimos inseridas na Igreja local na qual realizamos a nossa Missão como deseja o Coração de Jesus. Deste modo compartilhamos com Ele o desejo que o fogo do Amor, que Ele veio trazer sobre a terra, seja difundido sempre e em todo lugar, de modo que atinja todo mundo, a fim de que os frutos da Redenção sejam distribuídos a todos os homens da terra” . Assim expressam a “Linhas Fundamentais do Carisma das Irmãs Missionárias dos Sag. Corações sobre o sentido de ser missionárias.
Irmã Giovana também por muitos anos ficou fora do Brasil e este ano retornou, fez uma rica experiência e nos conta, nessa entrevista que ser missionários é “muito mais receber do que dar...”

Irmã Giovana, quanto tempo faz que a senhora se consagrou como Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria?
Fazem 33 anos que estou nesta congregação, porém que me consagrei através dos votos, são 29 anos.

Para a senhora o que significa ser consagrada?
Ser consagrada é um sim específico de Fé, Esperança e Caridade, que se assume através do Batismo no qual livremente se aceita dar uma resposta a Deus através dos votos de castidade, pobreza e obediência, consagrando-se para trabalhar pelo Reino em qualquer lugar do mundo por através do Carisma de uma congregação.

Conta-nos um pouco a história do seu chamado.
O Meu chamado foi surpreendente, até os treze anos a vida religiosa para mim era algo desconhecido, pois sendo de uma família muito humilde e sem ter ninguém antes de mim em minha família que tomasse a decisão de ser sacerdote ou religiosa, foi uma surpresa para todos, especialmente porque quando decidi me consagrar a Deus, era uma adolescente de caráter bem difícil e muitos achavam que não ia perseverar, mas como a misericórdia, o amor de Deus é bem maior que nossos limites, graças a Deus continuo respondendo à confiança que Deus depositou em mim.

A senhora ficou vários anos fora do Brasil?
Sim. Oito anos na Itália, quatro na Guatemala, mas também tive a graça de Deus de passar alguns dias em outros países como visitante: França, Israel, Egito, Honduras e Belize. Considero a passagem por esses países como dádiva de Deus que de uma forma ou outra sempre recompensa dando-nos o cêntuplo, quando somos dispostos a fazer sua vontade.

Como foi sua experiência estar fora da pátria?
Foi uma linda e proveitosa experiência, porque aprendi muito mais do que ensinei como se conhece, ama e serve a Deus em culturas e situações diferentes que sempre nos acolhem como missionários que não trabalham para se orgulhar, mas para partilhar o infinito amor que Deus tem para todos os seus filhos.

O que a levou ficar tão longe como missionária?
É pensar que para ser Missionário(a), Deus pode nos chamar para qualquer lugar, quando quer e como quer, pois a messe é grande e o Senhor necessita do nosso sim para levar o Evangelho a toda criatura, especialmente os excluídos e os que estão afastados do Reino por diversos motivos.

Quais foram as dificuldades e alegrias, Esperanças, perspectivas?

Dificuldades: Culturas diferentes, Idiomas, Distâncias...
Alegrias: O povo que olha para o missionário como um mensageiro de Deus que chegou para trazer esperanças de dias melhores onde todos querem viver como Irmãos filhos do mesmo Pai que não faz diferença, mas partilha o Amor, a sabedoria, a justiça e a paz que vem do próprio Deus.
Perspectivas: Que mais consagrados e outras pessoas de boa vontade se coloquem a disposição de testemunhar e anunciar o Evangelho quando o Jesus solicitar em qualquer lugar do mundo.

Conte-nos sua experiência no Brasil e na Itália...
A minha experiência no Brasil e na Itália posso dizer que graças a Deus foram ótimas, pois quando entregamos nossa vida a Deus os diferentes apostolados são maneiras de realizar nossas ações, tendo como guia o carisma que em nossa congregação seguindo os exemplos dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que nos ensinam que para amar necessitamos Orar, Estudar e trabalhar.

E sua missão em Guatemala?
Foi o Magnificat.


O que foi marcante?
E o que mais me marcou foi a fé daquele povo que caminha dezenas de quilômetros a pé para participar da Santa Missa, cursos de catequeses e cantos para depois colocar em prática em suas aldeias nas celebrações e ensino da catequese a crianças e adultos. A confiança que eles têm nos sacerdotes e missionários, a cultura, no qual, não impedem a vivência da religião Cristã, os sacrifícios que eles fazem em preparação das grandes celebrações religiosas, a alegria de partilhar o pouco que têm...

Qual é a sua nova missão?
A minha volta para o Brasil, foi uma resposta a um pedido que fiz a Madre geral, que com muito carinho aceitou. Atualmente a minha missão é na Creche Sagrados Corações de Ponta Grossa (PR), que estou desempenhando com grande alegria por continuar servindo ao Senhor, trabalhando na educação Infantil e com as famílias das mesmas, com a ajuda de nossas Irmãs, Funcionárias e outras pessoas que com tanta disponibilidade colaboram na nossa missão.

Que os Sagrados Corações de Jesus e Maria abençoem e guiem nossas missões em qualquer lugar do mundo.
Irmã Giovana Martins

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Psicologia em auxílio à formação para a vida Consagrada

Dos dias 17 a 21 de outubro, a Ir. Inez Grochoviski – Irmã Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, desenvolveu um trabalho de formação com os Noviços Passionistas, do Noviciado Passionista, em Ponta Grossa – (PR), sobre o tema: “OS VOTOS À LUZ DA PSICOLOGIA”. Nesta página ela faz um apanhado geral de como conduziu aquele momento de formação, compartilhando os conceitos que lá desenvolveu, como consagrada e psicóloga.

“Nossa reflexão esteve voltada para os VOTOS como um TESOURO que carregamos em um vaso de argila, dando ênfase ao fato que esse vaso de argila somos nós, e com nossas fragilidades facilmente pode ser machucado e ferido. Assim, uma psique destruída, afetada negativamente, dificulta o desenvolvimento da vida divina.


Devido à facilidade que temos de ser quebrados e destruídos afetivamente, Cristo age, então, como o Divino Oleiro, podendo modelar e remodelar nossa psique (cf Jer 18,6). Seu êxito, porém, dependerá do grau de abertura que a pessoa dá a ação de sua graça.

A psicologia enfatiza que a pessoa humana tem direito de viver em plenitude, assim como nos Evangelhos Jesus nos diz que veio trazer VIDA em abundância (cf Jo 10,10)

Pelo VOTO de CASTIDADE, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o consagrado experiencia, realiza e plenifica sua vida através de uma sexualidade integrada no e para o amor, amando a todos como Jesus.

Administra com capacidade ativa, livre e operativa os bens e supera o poder dominador pelo VOTO de POBREZA, conforme o exemplo de Jesus Cristo pobre.

Com capacidade livre, autônoma e determinada, organiza e programa sua liberdade, sua responsabilidade e sua existência pelo VOTO de OBEDIÊNCIA no seguimento e na adesão a Jesus obediente ao Pai.


Mediante a profissão dos Conselhos Evangélicos encontra, então, SENTIDO e SIGNIFICADO para sua vida, orientando-a sem fragmentação a Jesus Cristo e dessa forma vive com alegria e faz a experiência da realização plena.

Aqueles que seguem os Conselhos Evangélicos, ao mesmo tempo em que procuram a santidade para si mesmos propõem, por assim dizer, “uma terapia espiritual” para a humanidade, porque torna de algum modo visível o Deus vivo, pois o destino da auto-realização tão almejado pelo ser humano é o nascimento de Deus no próprio coração, ou seja, a admissão da Imagem de Deus na alma, encontrar no mais profundo de seu ser um espaço de silêncio no qual Deus habita.”


Conheça os Passionistas,
NOVICIADO PASSIONISTA 2011
"Comunidade orante, fraterna e solidária com os crucificados
através da meditação e anúncio da memória da Paixão"

http://noviciadopassionista.blogspot.com

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Vida Consagrada – Fonte de inspiração

Música: O mistério da vida

Letra e melodia da Postulante Vânia Jesus Santos
(Composta na Sexta Feira Santa, dia da Paixão do Senhor)



1-A vida é preciosa, um presente de amor

O mistério dessa vida, se esconde no Senhor

Encontramos em seu rosto verdadeira alegria

Da Paixão de Jesus Cristo recebemos nova vida.

Deus está presente, no nosso coração

Deus está presente, no rosto do irmão

Seu amor é grandioso, sua vida é missão

Coração de chama ardente de amor por nós irmãos.



2-Preciosa é a vida, que o Senhor nos revelou

nos chamou para viver, o mistério do amor

Tudo aquilo que sentimos é por graça do Senhor

a vida é um presente é um dom do grande amor.




3-A beleza dessa vida, encontramos com amor

se o coração se angustia, volta logo ao Senhor

Se o coração está em Deus confiante no Senhor

levaremos a alegria para o mundo sofredor.

Imagens: internet

sábado, 22 de outubro de 2011

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O DIA MISSIONÁRIO MUNDIAL 2011

«Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21)


Por ocasião do Jubileu do Ano 2000, o Venerável João Paulo II, no início de um novo milénio da era cristã, afirmou com força a necessidade de renovar o empenho de levar a todos o anúncio do Evangelho «com o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 58). É o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa que está em busca das razões profundas para viver em plenitude a própria existência. Por isso, o mesmo convite ressoa todos os anos na celebração do Dia Missionário Mundial.

Com efeito, o anúncio incessante do Evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais a fim de que sejam cada vez mais apropriados às novas situações — inclusive as que exigem uma nova evangelização — e animados pelo impulso missionário: «A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade cristãs, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos também encontrará inspiração e apoio, no empenho pela missão universal» (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 2).

Ide e anunciai

Este objectivo reaviva-se continuamente através da celebração da liturgia, em especial da Eucaristia, que se conclui sempre evocando o mandato de Jesus ressuscitado aos Apóstolos: «Ide...» (Mt 28, 19). A liturgia é sempre uma chamada «do mundo» e um novo início «no mundo» para testemunhar o que se experimentou: o poder salvífico da Palavra de Deus, o poder salvífico do Mistério pascal de Cristo. Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de O anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús. Eles, depois de ter reconhecido o Senhor ao partir o pão, «partiram imediatamente, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze» e contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho (Lc 24, 33-35). O Papa João Paulo II exortava a estarmos «vigilantes e prontos para reconhecer o seu rosto e correr a levar aos nossos irmãos o grande anúncio: “Vimos o Senhor”!» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 59).

A todos

Todos os povos são destinatários do anúncio do Evangelho. A Igreja «por sua natureza é missionária, visto que, segundo o desígnio de Deus Pai, tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo» (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Ad gentes, 2). Esta é «a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar» (Paulo vi, Exort. ap. Evangelii nutiandi, 14). Consequentemente, nunca pode fechar-se em si mesma. Enraíza-se em determinados lugares para ir além. A sua acção, em adesão à palavra de Cristo e sob a influência da sua graça e caridade, faz-se plena e actualmente presente a todos os homens e a todos os povos para os conduzir rumo à fé em Cristo (cf. Ad gentes, 5).

Esta tarefa não perdeu a sua urgência. Aliás, «a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, ainda está bem longe do seu pleno cumprimento... uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão ainda está no começo e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço» (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 1). Não podemos permanecer tranquilos com o pensamento de que, depois de dois mil anos, ainda existam povos que não conhecem Cristo e ainda não ouviram a sua Mensagem de salvação.

Não só mas aumenta o número daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e abandonaram, já não se reconhecem na Igreja; e muitos âmbitos, inclusive em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são refratários a abrirem-se à palavra da fé. Está em acto uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, de movimentos de pensamento e de relativismo imperante, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida que prescindem da Mensagem evangélica, como se Deus não existisse e exaltam a busca do bem-estar, do lucro fácil, da carreira e do sucesso como finalidade da vida, inclusive em detrimento dos valores morais.

Co-responsabilidade de todos

A missão universal envolve todos, tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar. E este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas a todos os baptizados, os quais são «raça eleita... nação santa, povo adquirido» (1 Pd 2, 9), para que proclame as suas obras maravilhosas.

Estão envolvidas também todas as suas actividades. A atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos ou ocasiões particulares, e nem devem ser consideradas como uma das tantas actividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial e, portanto, deve estar sempre presente. É importante que tanto cada baptizado como as comunidades eclesiais se interessem pela missão não de modo esporádico e irregular, mas de maneira constante, como forma de vida cristã. O próprio Dia Missionário não é um momento isolado no decorrer do ano, mas uma ocasião preciosa para nos determos e reflectirmos se e como correspondemos à vocação missionária; uma resposta essencial para a vida da Igreja.

Evangelização global

A evangelização é um processo complexo e inclui vários elementos. Entre estes, uma atenção peculiar da parte da animação missionária sempre foi dada à solidariedade. Este é também um dos objectivos do Dia Missionário Mundial que, através das Pontifícias Obras Missionárias, solicita a ajuda para a realização das tarefas de evangelização nos territórios de missão. Trata-se de apoiar instituições necessárias para estabelecer e consolidar a Igreja mediante os catequistas, os seminários, os sacerdotes; e também de oferecer a própria contribuição para o melhoramento das condições de vida das pessoas em países nos quais são mais graves os fenómenos de pobreza, subalimentação sobretudo infantil, doenças, carência de serviços médicos e para a instrução. Isto também faz parte da missão da Igreja. Anunciando o Evangelho, ela toma a peito a vida humana em sentido pleno.

Não é aceitável, afirmava o Servo de Deus Paulo VI, que na evangelização se descuidem os temas relativos à promoção humana, à justiça e à libertação de todas as formas de opressão, obviamente no respeito pela autonomia da esfera política. Não se interessar pelos problemas temporais da humanidade significaria «esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo que sofre e está em necessidade» (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 31.34); não estaria em sintonia com o comportamento de Jesus, o qual «percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todas as enfermidades e doenças» (Mt 9, 35).

Assim, através da participação co-responsável na missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos concedeu, e colabora para a realização do plano salvífico de Deus para toda a humanidade. Os desafios que ela encontra chamam os cristãos a caminhar juntamente com os outros, e a missão faz parte integrante deste caminho com todos. Nela conservamos, embora em vasos de barro, a nossa vocação cristã, o tesouro inestimável do Evangelho, o testemunho vivo de Jesus morto e ressuscitado, encontrado e acreditado na Igreja.

O Dia Missionário reavive em cada um o desejo e a alegria de «ir» ao encontro da humanidade levando Cristo a todos. Em seu nome concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, em particular àqueles que mais trabalham e sofrem pelo Evangelho.


Vaticano, 6 de Janeiro de 2011, Solenidade da Epifania do Senhor.

BENEDICTUS PP. XVI


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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

OUTUBRO - MÊS MISSIONÁRIO

CORAGEM DE SONHAR
Entrevista com Irmã Carla R. Simplício


Ir. Carla e as jovens internas

Ir Carla, a sua missão, e a abertura da missão na Tanzânia (África) iniciaram quase juntas. Conte-nos sua experiência (quanto tempo você ficou lá, qual o seu trabalho...).

Para começo de conversa, não posso afirmar quando começou exatamente minha missão, pois este apelo missionário foi sempre uma constante em minha vida, diria que foi o encanto pela vida missionária que me levou à consagração na vida religiosa. E com certeza a vida religiosa me deu a possibilidade de poder ir realizando este sonho que é o da missão e missão “Ad Gentes”.

A abertura da nossa missão na Tanzânia me deu a possibilidade de realizar o grande sonho que alimentei toda minha vida, que era ser missionária na África.

Oficialmente a missão em África se deu em 2000, e na época me encontrava em Roma, cursando o último ano da faculdade de Missiologia. Um ano depois, no dia 29 de outubro, apresentei a minha tese, e quando fui agradecer a Madre Geral pela possibilidade que me dera de estudar, na mesma ocasião me perguntou: você está pronta para partir para África? E eu não queria acreditar, foi uma alegria muito grande, pois via meu sonho tornar-se realidade. E assim no dia 23 Novembro de 2001 parti para Singida (Tanzânia).

Ali temos a nossa casa de noviciado, onde por 9 anos dediquei-me à formação das jovens à vida religiosa. Foi uma experiência muito bonita e gratificante, apesar das dificuldades que se encontram quando se vai em direção a uma realidade desconhecida. De resto, sabemos que a formação à vida religiosa hoje apresenta muitos desafios e muito mais quando estamos diante de um povo, língua, culturas diferentes da nossa. Sem esquecer que também temos que fazer as contas com nossos limites e fragilidades.


El Estor ( Guatemala)

Voce teve uma preparação específica para o trabalho missionário, já esteve fora do Brasil antes? O que você pode partilhar sobre este período?

Sim, posso dizer que recebi uma suficiente preparação, principalmente para o apostolado missionário. Já no Brasil frequentei alguns cursos e depois me aperfeiçoei na Itália, onde vivi por aproximadamente 10 anos. Neste tempo tive a oportunidade de conhecer melhor as fontes da Congregação que nasceu em Roma e está celebrando seus 125 anos de fundação. Neste período também fiz uma experiência de um ano em missões populares, organizadas pelos padres passionistas, e isso me proporcionou a oportunidade de conhecer melhor a realidade de um pais de primeiro mundo. Contemporaneamente realizei alguns estudos, como: de espiritualidade e cultura (Teresianum) catequese missionária, e missiologia (na Universidade Ubaniana) em Roma.

E a sua experiência no Brasil antes de partir?

No Brasil minha experiência também foi muito positiva, deste quando entrei na congregação em 1977, tive a oportunidade de trabalhar com os idosos no asilo, na pastoral paroquial, onde pude estar acompanhando as várias pastorais e grupos diferentes como; liturgia, catequese, pastoral familiar, jovens, pastoral vocacional, escolas e outros segundo a necessidade das comunidades por onde passei. E neste tempo fui realizando os estudos médios. Sempre me encantou muito estar com as pessoas, aprendi muito com elas e me ajudaram muito a entender e amar sempre mais minha vocação e missão como religiosa dos Sagrados corações de Jesus e Maria.


Irmã Carla e as noviças entre as gigantescas pedras da Tanzânia

O que mais marcou sua experiência missionária... dificuldades, alegrias, desafios...

Sou convicta de que dificuldades, alegrias, desafios e outros estão presentes em qualquer vocação e não só dos consagrados e missionários. Quando nos propomos a ser fiel e coerente com o que propomos sempre nos custa. É como navegar contra corrente. As provações nunca faltaram, mas contribuíram muito para meu amadurecimento, prefiro não citar nomes, mas muitas pessoas, a começar pela minha congregação me ajudaram a superar momentos difíceis.

Dificuldades: Na minha experiência missionária, foi ter que deixar a família, minha nação, precisar aprender outra língua, outros costumes, conviver com pessoas de cultura diferente, essa é uma prova de fogo e só se aprende juntos, tirando nossas sandálias, pois Deus nos precede na missão, Ele já esta lá. E o nosso engano é sempre pensar que vamos levar algo novo... levar Deus.

Alegrias: Tive muitas alegrias em minha vida missionária, a primeira foi minha família que sempre me apoiou e encorajou em minha vocação e missão, segundo a de pertencer à congregação Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que foi amor à primeira vista. Desde que entrei, no Instituto aconteceram muitas mudanças que ajudaram e esclareceram mais nossa missão na Igreja. A terceira é de o Instituto haver-me proporcionado uma preparação adequada e me enviado às missões, também do apoio, confiança e incentivo de meus superiores. Tudo contribuiu para que pudesse realizar meu sonho missionário.

Desafios: O ardor missionário não exclui as dificuldades. O título da nossa conversa esconde uma verdade, porque o sonho é de graça, mas a realidade tem um preço. Todos nós temos o direito de sonhar, mas não a alimentar de sonhos, para que o sonho se torne realidade é preciso enfrentar muitas realidades, lutar pelo que queremos, acreditar e saber esperar. Este foi para mim um grande desafio. Outro desafio foi a abertura a capacidade de adaptar a novas realidades, como o idioma, cultura, clima, alimentação, e costumes. A vida missionária nos desinstala de nosso comodismo, das nossas seguranças. Somos chamados constantemente a fazer a experiência de Zaqueu e isso custa muito para o nosso homem velho. Não posso negar que me custa, mas Deus sempre me tem presenteado com sua graça dando-me a capacidade de adaptação às varias realidades onde estive. Essa presença escondida de Deus na sabedoria e cultura dos povos me encanta, me apaixona!


Noviças em passeio

Sendo brasileira, você já viveu na Itália e na Tanzânia, agora na Guatemala. Que tipo de experiência você pode tirar para sua vida, depois desses anos como missionária dos Sagrados Corações.

Sim, brasileira, mineira muito apegada ao meu barraco fui chamada a viver na Itália, depois na Tanzânia, e agora vivo na Guatemala. São três realidades muito diferentes entre si, e em cada uma delas também fui chamada serviços diferentes e desafiadores, isso mexe muito com nossas estruturas, mas estas realidades abriram em mim muitos horizontes, trouxeram muitos ensinamentos. Em cada uma dessas realidades pude colher muitos aspectos positivos que contribuem muito para a vida pessoal e missionária; ver a realidade de um modo diferente, o encontro com o outro às vezes nos intimida, nos desafia, questiona e muitas vezes amamos acariciar nosso cantinho.

Uma tentação muito grande pela qual precisamos vigiar é o de fazer comparações, medir, pesar as realidades que já conhecemos ou vivemos antes e estamos vivendo agora. Isso é muito prejudicial á missão. Neste aspecto precisamos fazer um salto de qualidade contínuo, “vestir” a realidade do outro, aprender a amar e a admirar o que é importante para o outro. Respeito, solidariedade, fraternidade, acolhimento, escuta são alguns valores indispensáveis quando vamos ao encontro de outra cultura. Neste sentido, estou aprendendo que o missionário deve ser mais preparado para escutar do que para falar, fazer do que mandar, ser do que poder. Graças a Deus, está passando a febre da missão show, fogo-de-palha com cheiro de assistencialismo, distribuidora de... acredito mais em uma missão que é presença como a “vela” que se consome iluminando no silêncio, por mais pequena que seja é um ponto de luz para muitos, indefesos sem voz e vez nesta terra de Deus.

Como Irmã Missionária dos Sagrados Corações, estou aprendendo a ser missionária, e sou muito feliz pela minha vocação e missão e agradeço a Deus por este dom. Não sonho em fazer coisas grandes, desejo, sim, ter um coração grande e capaz de entender o valor de cada coisa. Prefiro falar do grande amor com que Deus sempre me demonstrou, assistindo-me nos momentos difíceis, dando-me fé, discernimento e coragem para tomar decisões no momento certo. Precisamos ser conscientes de que nossa vocação e missão são provadas, purificada lá onde menos imaginamos, aprendemos a ser humildes, a pedir ajuda e, assim, amadurecemos.

Quais suas expectativas e esperanças?

Minha expectativa é de esperança, que nossa congregação possa tornar sempre cada vez mais missionária, não só as Irmãs que são chamadas a partir a deixar a própria terra, mas todas, e cada uma fazendo o melhor possível aquilo que é chamada a fazer. Somos um “punhado” nas mãos de Deus, mas Ele acostuma fazer coisas grandes na vida de quem se dispõe a servi-lo. Que as irmãs jovens sejam corajosas, determinadas e enamoradas de Deus e da missão, sempre disponíveis para servir ao Senhor onde quer que Ele as chama.


Irmã Carla e crianças tanzanianas

Irmã Carla, deixe-nos uma mensagem.

A mensagem que gostaria de deixar para todos os missionários, neste mês a nós consagrados, é de ter coragem e de olhar para longe, existem outros horizontes que reclamam por nossa presença. Às vezes a missão é partir, outras vezes a missão é ficar... o importante é que estamos na vontade de Deus, as duas realidades exigem fé.

Deus não chama a todos para fazer coisas extraordinárias, mas nos chama a fazer de maneira extraordinária cada coisa. A vida é uma oportunidade única, e vale a pena vivê-la com intensidade. Imagine que cada minuto que passa é uma despedida. E que só o presente é em teu poder para dar o melhor de si. Nesta estrada muitos se cansam, desanimam, dão marcha ré, outros até dizem que a vocação saiu de moda... e que a missão é utopia! Não!!! E se assim fosse prefiro continuar fora da moda, e a sonhar como Jesus sonhou.

A todas as pessoas que acessam o nosso blog fica uma proposta: seja missionário onde você estiver, seja orgulhoso de tua Fé, defenda-a, indiferentemente do seu estado de vida ou vocação, você é chamado a dar razões do teu acreditar.

A você jovem que sonha e acredita em um mundo melhor e se sente atraída para a missão venha se unir a nós realizando sua vocação missionária na Congregação das Irmãs Missionárias dos Sagrados corações de Jesus e Maria.

Um beijo no teu coração!
Ir. Carla R. Simplicio

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

OUTUBRO - MÊS MISSIONÁRIO

Mais uma Missionária dos Sagrados Corações “avança para as águas mais profundas”... rumo à Guatemala

Entre as dimensões do nosso carisma está a “presença e ação nas missões. Especialmente com o reconhecimento como Congregação de direito pontifício e a inclusão na nossa denominação do título "missionárias”, sentimos que o horizonte de nossa participação na difusão do Evangelho tornou-se um componente central do nosso ser na Igreja e no mundo”. Nesse sentido a missão em várias nações adquire um significado e uma amplidão particular e constitui um modo fundamental segundo o qual nós percebemos o sentido de ser missionárias. A essa missão não somente queremos ser fiéis, mas também dedicar o melhor de nós mesmas como irmãs individualmente, e como Instituto. "Tal perspectiva, portanto, deve estar presente na nossa mente e no nosso coração e suscitar um constante impulso missionário, para viver as ocasiões e as circunstâncias com as quais colaborar para a divulgação do Evangelho” (Linhas Fundamentais do nosso Carisma, p. 50)

Conscientes dessa importante dimensão, muitas irmãs dedicaram sua vida às missões fora da própria pátria. Assim que a congregação abriu as portas para a missão, as irmãs italianas vieram para o Brasil há quase 50 anos, e com tanto sacrifício e dedicação deram vida ao nosso apostolado em algumas cidades brasileiras. Daqui também surgiram frutos para a missão: Irmãs brasileiras que sentiram o chamado e foram enviadas para o exterior e ajudaram a fundar novas missões, juntamente com as Irmãs italianas: Ir. Leonia, Ir. Maura, Ir. Osvalda, Ir. Leonilde, Ir. Carla, Ir. Giovanna, Ir. Lourença, Ir. Míriam. Todas, com espírito missionário, ouviram o apelo do Senhor e disseram Sim ao convite do Mestre para “avançar para as águas mais profundas” e estão dando sua contribuição em países longínquos para a difusão do Evangelho.

Agora é a vez da Ir. Maria Alice! Depois de dedicar vários anos na direção da creche Sagrados Corações em Ponta Grossa (PR), destinada à assistência de crianças carentes, se dispôs a seguir os passos das outras missionárias que a precederam. Neste mês missionário, Ir. Maria Alice parte para Guatemala, para reforçar a comunidade e prestar serviço ao povo tão necessitado.
Que o Senhor te acompanhe!

Fotos
1 - Momento em que a Ir. Maria Alice recebe das mãos do Sacerdote o envio para a Missão na Guatemala.
2 - Ir. Maria Alice com as crianças na creche Sagrados Corações, em Ponta Grossa - PR, onde era coordenadora.

domingo, 2 de outubro de 2011

OUTUBRO - MÊS MISSIONÁRIO

Missão: Parte integrante do Carisma

Ir. Josely enfrentando os desafios das missões populares em Minas Gerais

Nós Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações compreendemos que o amor de Cristo nos impulsiona a seguir o seu exemplo na realização da sua missão de anúncio da salvação e manifestação de benevolência para com todos.

A referência ao Coração de Cristo, torna evidente aquilo que Jesus mesmo ensina quando diz: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de Coração” (Mt 11,29). Contemplando constantemente o Coração de Jesus, interiorizando a sua mensagem de amor e seguindo as suas pegadas, a Missionária dos Sagrados Corações realiza a sua Consagração, como parte de tal projeto, livremente escolhido.

Pelo nosso Carisma, nos sentimos inseridas na Igreja local, na qual atuamos a nossa missão, como deseja o Coração de Cristo. Desta maneira, partilhamos com Ele o desejo que o fogo do amor que Ele veio trazer sobre a terra, seja difundido sempre e em todo o lugar, de tal modo que tome conta do mundo inteiro, para que os frutos da redenção sejam esparsos a todos os homens da terra. Conscientes disso, nos empenhamos nas diversas pastorais, auxiliando os pastores na sua ação, orientada ao crescimento dos fiéis, nas diversas idades e condições.

Nosso Instituto, particularmente, desde as origens, empenhou-se nas várias formas de presença e serviço ao lado do povo de Deus.

O nosso Projeto Geral de Formação, no n. 11, descreve muito bem o nosso papel como Missionárias dentro da Igreja e com a Igreja:

“Chamadas à vida missionária, fazemos a experiência de que também essa è expressão da dimensão carismática da nossa existência. O que pedimos a Deus é trabalhar pela sua glória, amá-lo e torná-lo amado. Somente concentrando toda a nossa atenção interior sobre os Corações de Jesus e Maria, poderemos servir, com eficácia e sem interesses egoísticos, os nossos irmãos. Somente deixando-nos tocar e plasmar assiduamente pela Palavra divina, nos tornamos verdadeiros profetas de Deus de Jesus Cristo, capazes de anunciar o Evangelho e de discernir os sinais da presença divina no nosso mundo tão pleno de contradições. Somente se consentirmos ao Espírito de amor de libertar-nos de nós mesmas e plasmar o nosso coração à imagem dos Corações de Jesus e Maria, poderemos descobrir o rosto de Cristo nos irmãos.

Do serviço apostólico, posteriormente, receberemos também a ajuda, freqüentemente inesperada, para o nosso caminho espiritual e, graças à ela, veremos crescer a disponibilidade em deixar-nos modelar pelo Espírito e a sermos cada dia novamente enviadas em missão, constantemente renovadas, para o bem dos irmãos e a glória de Deus.

Ir. Lourença visitando as famílias pobres na Guatemala

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

LECTIO DIVINA: LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

Neste mês de setembro, mês dedicado à Bíblia, somos convidados e motivados a refletir e ou aprofundar mais sobre a Palavra de Deus e sua ação em nossa vida. E um meio bem apropriado para isso é a “Lectio Divina”, ou Leitura Orante da Bíblia.

A maturidade espiritual cresce a cada dia através da Leitura por excelência das Sagradas Escrituras, e mais particularmente no dia-a-dia. Não poderia haver outra fonte e escola para deixar-se formar cada dia pela Palavra de Deus que se permitirmos, entra no ritmo complexo da vida e se torna como que o coração pulsante e a respiração secreta daquele(a) que busca dar um sentido para a sua vida. . Lembremos da frase dita por alguns bispos no Concilio Vaticano II: “Conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo”.

A expressão Lectio Divina é de origem latina que se traduz: “Leitura Divina” ou “Leitura Orante da Palavra”.

Este método, iniciou há muito tempo por monges católicos, vivido , praticado e trazido até hoje. Consiste em deixar-se envolver pela Palavra, pelo plano de Salvação de Deus. È um exercício que nos leva a alimentar a vida espiritual pela Palavra de Deus. O importante é rezar com a Palavra, seja individualmente ou em grupo.

O método mais antigo, que inspirou outros mais recentes, consiste em que a reflexão com a Palavra de Deus siga alguns passos: Primeiramente, fazer a invocação do Espírito Santo. Aconselha-se que nas primeiras vezes se utilizem os textos do Evangelho.

Na seqüência são quatro degraus:

1 - Lectio (leitura)

Ler com calma e atenção o texto escolhido quantas vezes forem necessárias, procurando identificar coisas importantes do trecho: ambiente, personagens, os diálogos, as ações, como se estivesse vendo a cena. A leitura portanto, é feita com zelo de espírito.

2 - Meditatio (meditação)

A meditação não se detém no exterior, na superfície, mas penetra no interior no mais profundo, perscruta cada aspecto. Faz-se necessário considerar o que essa palavra está iluminando em sua vida e na realidade em que vivo hoje observando quais são os questionamentos provocadores e incentivadores e outros que levam a refletir sobre a própria vida. Ou seja, é a escuta de Deus, saboreando a sua Palavra.

3 - Oratio (Oração)

Este é o momento de responder a Deus depois de tê-lo escutado. È o momento muito pessoal, que diz respeito somente à pessoa de Deus, não se preocupando em encontrar palavras adequadas, mas sim falando palavras que brotam do coração, como louvor, pedido de perdão, agradecimento, pedido de clareza, etc.

4 - Contemplatio (contemplação)

Este passo é o momento do silêncio diante de Deus. É o momento da presença misteriosa. De perceber a presença de Deus na história, na vida no quotidiano. É o momento pelo qual a pessoa poderá ser conduzida ou não à contemplação, ou simplesmente a um estado de tranqüilidade e de paz interior.

Enfim, esses momentos se feitos com determinação, brotarão o desejo de estar com Deus, em sintonia com a Palavra a fim de realizar a Sua Divina vontade. Estes passos muitas vezes levam-nos a acrescentar um outro: a Actio (ação). A Palavra de Deus é como uma espada de dois gumes que penetra no mais profundo do nosso ser, e ilumina a nossa vida, guia nossos passos. Sendo assim levamos a certeza de que somos conduzidos pela graça de Deus a viver uma vida sempre nova.

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Passos ilustrativos da Lectio Divina










terça-feira, 13 de setembro de 2011

1886 / 2011 - 125 ANOS DE FUNDAÇÃO - 125 ANOS DE DOAÇÃO

Este ano é muito especial para as Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Dia 20 de março celebraram o seu jubileu de fundação. Há 125 anos, duas jovens, Rosa Rosato e Rosa D’Ovidio sentiram um forte chamado e se dispuseram a seguir os passos do Mestre de uma forma mais radical. Assim, colocaram os fundamentos para a nova congregação, com o propósito de honrar o Coração de Jesus e o Coração de Maria, em Roma.

Mais tarde outras jovens, admiradas pelo zelo apostólico das duas fundadoras, começaram também a fazer parte do mesmo ideal: “Seguir o Coração de Jesus à luz do Coração de Maria, a serviço dos pobres e sofredores”, que tornou-se o lemas das Irmãs. As comunidades foram crescendo e expandindo-se pela Itália e em 1963 as Irmãs abriram suas primeiras comunidades no Brasil, e hoje estão presentes em 5 comunidades distribuídas nas cidades de Teixeira Soares e Ponta Grossa (no Paraná), em Osvaldo Cruz (São Paulo) na capital paulista, na paróquia do Sagrado Coração.

As irmãs estão presentes em diversos países, atuando junto ao povo nas periferias, nas creches, na assistência às crianças carentes, enfermos, idosos e nas pastorais paroquiais e missões populares.

A Espiritualidade das Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria é caracterizada pela atenção profunda ao Coração Divino de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria que constituem a parte central e fundamental do Carisma.

Cada uma expressa a sua entrega com alegria vivendo a própria consagração irradiada pela luz do Coração de Jesus, contemplando o exemplo do Coração de Maria, que se apresenta a cada uma como modelo de vida na realização do seguimento de Cristo.

sábado, 10 de setembro de 2011

Venerável Irmã Tarsila do Crucifixo Osti


4ª parte:

A VOCAÇÃO


 Um forte chamado a ser discípula de Jesus
Naquela manhã Ana foi à igreja. Um estremeci­mento esquisito no coração fazia-a pressentir que o Senhor finalmente lhe falaria. Apressou o passo, entrou no templo e se ajoelhou no primeiro banco perto da porta. Ali esperou a sua voz. De fato, “do altar — conta ela no Diário — do lado do Evangelho, como se Ele estivesse em pé (mas eu não o vi), chegou-me a sua voz doce e suave: Lembra-se da idéia que você tinha de se tornar Irmã?” (p. 18).
Era verdade. Em criança surgira-lhe o desejo de entrar em convento e, quando mocinha, sonhara com essa realização como uma das coisas mais lindas que lhe pudessem acontecer na vida. Agora, absorta em oração naquela igreja, desfilava-se-lhe diante da mente uma série de lembranças, todas ligadas à voca­ção religiosa, desde os seus onze anos até aquele dia.
Com onze anos de idade, freqüentava o 4.° ano primário. Um dia o professor de religião, Pe. Colombini, falando dos conselhos evangélicos, disse às alunas: "Oh, essas coisas não são para vocês, mas para aquelas que querem ser religiosas... Sabem? As religiosas não vão a passeios, a teatro, a divertimentos, etc. Em poucas palavras — escreve no Diário — explicou e fez compreender a vida religiosa. Depois acrescentou: ‘Quem de vocês gostaria de ser religiosa? Levante a mão!’. Enquanto ele contava as privações mundanas das Irmãs, eu sentia que essas privações não me importavam nada e que gostaria da vida das religiosas. Tive vontade de levantar a mão, mas não o fiz de medo que o sacerdote fosse aos meus pais e recebesse uma recusa. Não queria que o padre ficasse desgostoso com os meus” (p. 4).
Foi uma faísca, a primeira; mas ela se tornou incêndio que abrasou o coração de Ana quando, certa manhã, uma Irmã dos Sagrados Corações foi pedir esmola à Casa Ósti. A menina não pôde conter o enlevo. Acompanhou a religiosa à porta e ficou a contemplá-la com olhar insaciável até que desapare­ceu no fim da rua.
O mesmo desejo experimentou quando, durante a doença de Zaira, uma Irmã foi visitar a enferma no acampamento austríaco, onde, como sabemos, a família morava, no  período da primeira guerra mundial. Mas como realizar o desejo naquela difícil circunstância? E como deixar a mãe no meio de tanta dor? Todavia, o pensamento da vocação voltava sempre:

“Lembro-me bem — diz no Diário — era depois do almoço e eu estava enxugando os talhe­res colocando-os diretamente na gaveta da mesa. Pensava na minha aspiração e...  no meu dever. Então, ouvi, dentro de mim, uma voz: “Depois da morte de Zaira, você poderá ser freira” (p. 10).
Entretanto as condições familiares, as provações e a ascese interior constrangida pelo clima de inibição, arriscaram obscurecer e retardar-lhe a vocação[1]. Um dia, porém, depois da morte de Zaira, uma voz soou-lhe tempestivamente ao espírito para recordar-lhe o grande desejo. Enquanto atendia aos afazeres domésticos, ouvia a voz “Agora você pode deixar seus pais; não precisam mais de você. Você deve operar, deve fazer o bem” (p. 16). O parêntese do noivado fizera-a sentir mais a necessidade de realizar a sua vocação, porque nunca como nesse tempo experimentara o desejo veemente de perten­cer só a Deus.


Ajoelhada naquele banco, pensava em tudo isso e agradecia a bondade de Deus que a tinha conduzido até ali: estava deveras contente de se tornar religiosa, de deixar os parentes, de se garantir uma feliz velhice e uma santa morte. Tomada da mais pura alegria, levantou-se e foi perguntar a uma velhinha que estava ali perto rezando o terço: “Senhora, por favor; eu queria me tornar freira; a quem deveria dirigir-me?” E a velhinha: “Filha, vá às Irmãs dos Sagrados Corações” (p. 18). Foi no mês de novembro de 1924.
Sim, agora podia realizar o antigo desejo de ser religiosa, mas superando não poucas dificuldades: as da Madre Geral, que, prudentemente, quis provar-lhe as intenções por dois meses, e as causadas pela família. Nesse tempo, desde 1.° de janeiro de 1925, teve a alegria de começar a receber a sagrada Comu­nhão diariamente. Para ela era inebriar-se de Amor; e queria que esse Amor inebriasse aos outros tam­bém. Por isso, ingenuamente, demorava de propósito entre as freguesas do mercado, pensando que assim lhes levava Jesus às almas.

“Agia eu — diz no Diário — com ignorância, simplicidade e amor. Não entendia nada de soberba espiritual, nem sequer a conhecia de nome. Nunca lera um livro bom, uma vida de santos: nem sabia que existiam” (p. 19).


[1] Períodos bons e de devoção” sucediam-se aos de “tibieza, abandono da oração e assim também de alguma culpa”. Ela sentia tudo isso e procurava  reagir, multiplicando os desejos, reforçando os propósitos e intensificando a oração, mesmo reconhecendo que “não conseguia fazer melhor estando em família. (14)

3ª parte:

Os primeiros sinais visíveis do invisível


Durante a enfermidade da tia Tonina, deu-se um fato curioso. Na noite do dia 2 de setembro, isto é, um dia antes de morrer, a enferma começou a con­versar com o irmão falecido vários anos antes. Fala­vam sobre a beleza do paraíso, Nossa Senhora e dolorosos acontecimentos que depois se realizaram pontualmente, como a dolorosíssima doença e morte da mãe de Ana, a enfermidade da avó e a do tio. A jovem escutou estupefata, mas não disse nada para a mãe, conservando no coração a sua imensa dor. A respeito dessas coisas extraordinárias, notamos que no Diário há grande número de referências a visões e vozes sobrenaturais e, até, descrições das mesmas, relatadas,  porém,  com a costumeira simplicidade. Conta a visão de Nossa Senhora, quando não tinha ainda seis anos, e do demônio, que lhe agarrou o pé, quando estava com sete anos de idade. Teve freqüen­tes revelações sobre a sua futura vida de freira, as quais lhe caracterizam a espiritualidade toda cheia de sobrenatural. Veremos tudo isso em seguida, mas adiantamos que o presente esboço não nos permite aprofundar este aspecto singular da espiritualidade de Irmã Tarsila. Limitamo-nos a relevar, por aquilo também que iremos dizer adiante, que talvez nem todas as visões se devam tomar em sentido estrita­mente teológico, pois as palavras e expressões usadas pela serva de Deus não conhecem a perfeição da teologia mística. Do mesmo modo, as vozes, de que fala amiúde no seu itinerário espiritual, podem entender-se ou como locuções divinas propriamente ditas, ou como inspirações interiores com a finalidade de colocar sob o influxo da divina vontade determi­nados atos de sua vida. Nem se deve descuidar de um pormenor: visões e vozes ocorrem, muitas vezes, quando, estando ainda em família, ela leva uma vida sacramental quase inexistente pelos motivos já con­tados.

Ao entrar no Instituto dos Sagrados Corações, confessará à Superiora Geral, Madre Giuseppina Mancinelli, que recebeu a sagrada Comunhão duas vezes por ano; na verdade, confidenciou no diário, fazia dois anos que a recebia uma só vez; de maneira que, ao todo, tinha comungado apenas cinco vezes. Vencida pela vergonha, contara uma pequena men­tira, que lembraria depois com grande amargura. Devemos deduzir disso que por alguns anos nem cumpriu o preceito pascal. Como explicar, então, a vida de oração e de sacrifício, a consciência de “sentir Deus” — como já vimos — e o desejo de corres­ponder à vocação religiosa que expressa naquela época? A resposta não nos parece fácil, mas talvez se possa encontrá-la na excessiva timidez e ingenui­dade que ela faz ressaltar, aqui e acolá, no diário. Em certo ponto até diz claramente que quereria aproximar-se dos sacramentos com mais frequência, mas a impedia o pensamento de ir contra o estilo da família e de ter que prestar contas em casa. Assim, não conseguia romper a barreira que existia entre o seu espírito religioso e a prática dos sacramentos. É essa mesma timidez que a faz assistir inibida à extrema recusa dos sacramentos por parte de Zaira, e que a faz aceitar com resignação o noivado que os pais queriam e esperar pacientemente o dia de seu ingresso na Congregação até aos vinte e oito anos de idade[1].

Pensamos que essa razão psicológica seja a chave para se compreender a original espiritualidade de Irmã Tarsila antes de se tornar religiosa. Não há que negar: ela é forte e corajosa perante todo tipo de renúncia, é uma alma extraordinariamente gene­rosa, mas, diante do ambiente familiar, não assíduo na prática religiosa, não sabe reagir a não ser supor­tando tudo com doçura, só apelando para o seu “templo” interior que, na realidade, é o que mais sente prepotente a necessidade de Deus[2]. Sobre­tudo não discute diante da vontade dos pais e, tímida e obediente como é, respeita-a até o heroísmo, até o dia em que, com a graça de Deus e o espírito renovado nos sacramentos, deixará tudo para voar ao noviciado dos Sagrados Corações.

Acenamos ao noivado: foi o último impedimento à vocação. Um jovem napolitano, funcionário do correio de Pola, pediu sua mão aos pais[3], e Ana, embora contrariada, teve de obedecer. Quis, porém, invocar a ajuda de Nossa Senhora para que a liber­tasse daquela situação, e a Santíssima Virgem a atendeu dispondo as coisas de modo que, depois de apenas um mês de noivado, tudo acabasse[4]. A alegria de Ana foi imensa. Lembrou-se, então, das sábias palavras que lhe disse uma boa senhora um ano antes: "Filha, o que o Senhor destinou para a senhora há de se realizar; não precisa ir procurar; tudo chegará no devido tempo" (p. 17). Ela correu à igreja para pedir a Deus que lhe manifestasse a sua vontade[5]. Continuou na oração por uma semana, com fé sempre mais ardente e com a certeza de ser atendida.
E foi atendida.

Notas:


[1] Ela fala desse tempo como de uma provação que Deus  quis porque  "talvez eu  fosse  orgulhosa  de  nunca me ter aproximado de um homem como se o mérito fosse meu",  (pp. 15-16).
[2] A respeito do ambiente familiar, temos um escla­recimento de Heitor:  "Tal modo de agir de minha irmã tinha essencialmente origem de sua timidez ou, melhor, de seu medo de desagradar. Ninguém a impediria de aproxi­mar-se  mais freqüentemente  da sagrada  Comunhão.  Eu mesmo, quando estudante, a recebia-a várias vezes por ano juntamente com os meus colegas, e os meus pais sempre gostaram que participasse do coral que acompanhava a Missa do Pe. Gregório Nider, nosso professor de religião. Queriam que freqüentasse as cerimônias do mês de Maria, as da semana santa, etc. Meu pai nunca deixava de ir à Missa em ocasião como Natal, Primeiro do Ano, Páscoa e, quando podia, nos domingos".   (Carta de 7 de julho de 1960).
[3] Conheceu Ana na agência do correio, onde ela ia retirar as encomendas do pai. Suas gentilezas “exageradas” enfastiavam bastante a moça que pediu, mas em vão, que ao correio fosse a mana Maria. Era mister resignar-se e aceitar todos aqueles cumprimentos. Um dia ele a parou na rua, e a jovem teve de agüentar uma verdadeira decla­ração de amor. (p. 16).
[4] O rapaz tinha ido, por quinze dias, ao correio de Rovigno e tinha deixado pertences e correspondência em casa Ósti. Ana achou que devia remexer-lhe nas cartas a fim de conhecer-lhe melhor ânimo e conduta. Foi providen­cial, porque numa carta encontrou referência a uma doença que ele tivera. Isso deu coragem a ela e à mãe para romper o compromisso apesar dos protestos do pretendente.
[5] Nunca tinha feito novenas, não tinha livros de devoção, mas “rezava assim como lhe saía do coração”, com simplicidade — dizia ela na véspera de sua entrada no Instituto dos Sagrados Corações.



2ª parte (continuação):

A primeira grande alegria: Crisma e Primeira Comunhão

Jesus a chamava, convidava-a para o primeiro encontro: a Primeira Eucaristia. Preparou-se a ela freqüentando, por conselho de Pe. Colombini, já seu professor de religião, o curso de catequese na catedral. O ano de 1909 marcou para Ana a graça de dois sacramentos: a Crisma, no dia de Pentecostes, 30 de maio; a Primeira Comunhão, no dia 29 de junho, festa dos apóstolos São Pedro e São Paulo.

Foi uma transformação completa na história de sua alma sedenta de espiritualidade. Deus bateu-lhe ao cora¬ção puro para ali pôr a sua mesa (Ap 3,20). Que alegria sentir o Senhor na alma! Na mesma tarde daquele dia, experimentou pela primeira vez uma misteriosa presença, uma misteriosa vibração que a fez percorrer com o coração a estremecer o caminho de volta da igreja de Nossa Senhora das Graças, aonde fora com a família. “Como a gente sente o Senhor!” dizia de si para si; e pensava que todos experimentavam o mesmo efeito no dia da Primeira Comunhão.


“No dia seguinte — escreve no Diário — falando com mamãe, contei o fato dizendo que nunca imagi¬naria que se gozasse tão sensivelmente o Senhor vivo dentro de nós. Mamãe escutou e não disse nada. Tivera eu recebido mais freqüentemente a sagrada Comunhão! Mas ninguém me ensinou e, como em casa não existia a bela prática da Comunhão fre¬qüente, eu não ousava falar em comungar” (p. 6).

Encontramos aqui o humilde reconhecimento da falta de vida sacramental e o pesar da alma já adiantada na ascese que lastima o bem não realizado. Mas, nem por isso o Senhor parou de bater ao seu coração... A necessidade crescente de oração inun¬dava-lhe a alma em casa, durante os afazeres, enquanto a avó ia ao mercado; e com ingenuidade estupefaciente, não conseguindo juntar trabalho e oração, deixava o serviço para atender às rezas. A avó, quando voltava, exclamava: “O que aconteceu? Ficou dormindo?” Ana permanecia em silêncio, mas sentia-se feliz rezando e escutando a voz do Senhor. Sobretudo gostava de passar freqüentes dias no recolhimento, perdida na mais santa alegria, repleta de paz e suavidade.

Providencialmente a Primeira Comunhão lhe robustecera a alma, e a oração a preparara para a união definitiva com o Cristo. Com efeito, a dor lhe reservava provações sem número.

De início, foi a morte de entes queridos; em seguida, a primeira guerra mundial que desferiu um rude golpe sobre a família Ósti. Uma irmãzinha, Gema, de catorze meses, voou para o céu, quase para lá encontrar a grande Gema, de Lucca (+1903), que seria depois Santa Gema Galgâni. Mal passaram ses¬senta dias e faleceu o primeiro irmãozinho também, Ricardo, com apenas seis anos de idade . Ana tinha então só poucos anos e a dor talvez pudesse não ser tão profunda, mas faleceram também um maninho, Mário, e uma irmã, Zaira, quando ela estava com vinte anos e, além de sua dor, podia compreender o imenso sofrimento dos pais.

Mário era seu predileto. Morreu de sarampo em 1.° de dezembro de 1915, no acampamento de prófugos de Potendorff-Landegg, aonde toda a família tinha sido transferida pelas autoridades, depois de quatro meses passados na Hungria, quando estourou a primeira guerra mundial .

As condições econômicas podiam até considerar-se boas, pois o pai subira a diretor da alfaiataria, na qual era coadjuvado pela esposa e por uma filha , mas a aflição pela perda daquele menino apertava sempre o coração de todos, especialmente de Ana, que fora para ele uma segunda mãe. “A minha dor não passava mais...”, escreve no Diário (p. 8).

Ainda por cima, Zaira, no inverno de 1916 contraiu uma doença contagiosa. Como tratá-la sem remédios, naquelas privações impostas pela guerra? Todo sacrifício foi feito, mas em vão. Exatamente no dia 1.° de novembro de 1918, quando todo o mundo delirava de alegria pela vitória italiana sobre a Áustria, Zaira teve uma crise violentíssima, seguida de outras em Pola, aonde a família voltara, terminada a guerra. Ana não se poupava, lavando roupa e mais roupa e assistindo a querida enferma sem nenhum medo de contágio. À mãe, que lhe recomendava prudência e precaução, respondia ela: “Não tenha medo, mamãe; deixe-me fazer; sei com certeza que não pegarei a doença”. E a mãe: “Mas o que vai dizer o povo?” E Ana, confiante: “Não se preocupe com os outros; façamos o que pudermos; eu posso fazê-lo. Não se preocupe!” Na certa, referia-se a uma voz interior que, um dia, lhe tinha assegurado: “Não receie; pode lavar a roupa (da enferma); a doença, você não a contrairá” (p. 10). E Ana ficou ao lado da irmã como Anjo tutelar até a morte dela, que aconteceu em 27 de setembro de 1920.

Dupla dor trouxe-lhe ao coração esse faleci¬mento: a perda da pobre Zaira na primavera da vida e o fato de ela ter recusado que se chamasse um sacerdote para os últimos sacramentos. O Diário registra o acontecimento com a simplicidade que lhe é principal mérito, sem polêmica, reduzindo os termos do drama ao seu puro significado interior.

“Zaira não queria saber de padres, profunda¬mente desgostosa com um a quem se confessara e do qual recebera a sagrada Comunhão no acampamento. Depois de sua morte, pedi à mamãe que, se eu ficasse doente, não me deixasse faltar o sacerdote, pois eu não temia morrer e queria muito morrer bem. Às vezes, eu expressava o desejo de que, em caso de doença, me levassem ao hospital, julgando que teria melhor assistência espiritual e, não tendo os paren¬tes por perto, poderia com mais calma e paz pensar no Senhor e manter-me mais unida a Ele. Os pais, que não compreendiam meus motivos, não queriam que falasse nisso e diziam que eu não tinha coração” (p. 11).

Essas palavras revelam que a graça realizava o seu trabalho em profundidade. Sem dúvida aquela maneira de morrer produziu nela uma espécie de trauma que lhe abalou o espírito a ponto de fazê-la julgar necessária a separação dos seus, para ter melhor assistência espiritual e poder ficar em mais intimidade unida a Deus. Mas quem escreve essas coisas mostra que já o está com vínculo particular de caridade e que já está progredindo no espírito de oração; revela de antemão em germe a vocação ao estado religioso, só lhe faltando a separação da família para voltar-se unicamente a Deus.

De resto, Ana sentia-se uma “consagrada”, pois tudo tinha oferecido a Deus num ímpeto de amor a Ele. Não lhe importava que o seu corpo formoso — alta estatura, olhos claros, cabelo loiro, semblante delicado — atraísse os olhares de muitos rapazes. E narra-o sem rodeios, com simplicidade:

“Eu era bonitinha e tinha vários cortejadores. Isso divertia-me e ficava contente de me ver olhada. Porém, confiança com ninguém: no máximo, um cumprimento. Muitas vezes, percebia que estava sendo seguida; então tomava-me o medo e eu estugava o passo. Talvez não fosse virtude, mas timidez. Os seguidores achavam ruim e não me olhavam mais. Assim permitia o bom Deus porque me queria toda para si” (p. 6).

O humilde aceno à timidez, na realidade, não esgota o problema de sua virgindade. Esta encontra a verdadeira explicação na propensão natural que sentia para a vida religiosa e, mais ainda, na sensação que lhe ia aflorando na consciência de que era chamada para ela.

De fato, Deus a trabalhava finamente permitin¬do novas dolorosas provações, tanto que ela podia escrever: “Teria muitas coisas para contar dos anos da minha juventude, mas todas de sofrimento, dores e privações, que não creio interessante descrevê-las” (p. 6). Provações que Ana suportou com exemplar paciência e fortaleza, como quando o pai, em críticas condições econômicas, teve dissabores com um cunhado , demitido do Arsenal da Marinha, e quando teve de tomar sobre si a assistência da tia Tonina, meia-irmã da mãe, porque estava gravemente doente do coração. Foi tarefa realmente trabalhosa, pois, no mesmo tempo, tinha que tratar de Zaira.; e mais dura ainda nas longas noites, quando a paciente sofria muito e delirava. Seu falecimento aconteceu em 3 de setembro de 1920, vinte e quatro dias antes da morte de Zaira .

(da biografia de Tarsila Ósti: “Amor e simplicidade”, autor: CARMELO NASELLI, passionista, reeditado em italiano “Una donna di frontiera”. Sentieri umani e spirituali di TARSILLA OSTI, Milano: Ed. San Paolo, 2007)


1ª parte:
I
A INFÂNCIA

A primeira grande dor: deixar a escola

Irmã Tarsila era filha de Pedro Ósti (Host-Ivessich) e de Maria Maraspin. Nasceu em 6 de dezembro de 1895 em Pola, na Istria, naquele tempo sob a dominação austro-húngara.

Por curioso equívoco, na cerimônia do batizado, ao invés de ser chamada Alma, como a mãe queria, recebeu o nome de Ana. Na verdade, este nome lhe caracterizaria as virtudes familiares. É com ele que nós a chamaremos até sua entrada no claustro.

Com Ana resplandeceu uma luz sobre a família Ósti, quer assinalando-a com a garantia da salvação, quer ajudando-a nas modestas condições econômicas pela sua presença eficiente na lida de cada dia em favor dos quatro irmãos e das três irmãs. Só dois deles e uma delas, porém, lhe sobreviveriam.

Seu temperamento trazia-lhe serviço e afeto, porque, meiga, complacente, pronta a qualquer renúncia e sacrifício, estava sempre à disposição dos outros, constantemente humilde e prestativa. Seu irmão Heitor lembra que “nunca viu nela um movimento de revolta, irritação ou ou impaciência”.¹

Não somos entusiastas dos santos idealizados e preservados do mal desde o nascimento, e menos ainda de seus biógrafos que reduzem o humano, tirando, assim, a seus heróis o fascínio da conquista trabalhosa do bem e o prodígio do amor que pode e sabe inserir o Cristo na fraqueza do homem. Por isso, é bom de antemão dizermos que Ana, menina e moça, teve realmente um temperamento privilegiado, mas teve mais ainda a vontade firme e constante de sempre melhorar. Com efeito, encontramos no Diário referências a pequenas brigas com os irmãozinhos, a sentimentos de vaidadezinha feminina, a alguma resposta arrogante pelas repreensões recebidas; sobretudo encontramos a sincera confissão da falta de consistente piedade religiosa, fruto do ambiente familiar, do qual fala com delicadeza e humilde candura.

Os vinte e oito anos passados na casa paterna representam no itinerário espiritual nada mais que uma espera para a grande subida. Enquanto o tempe¬ramento se lhe afina e o coração se alarga abrindo-se a todas as cordas da sensibilidade e do sacrifício, o espírito invoca a mão sábia que há de lhe forjar a santidade. A espera transcorre-lhe na amargura de ver os seus viverem apenas de fé tradicional que pres¬cinde da rigorosa observância dos mandamentos da Igreja; mas alegra-se também por saber seu lar alicerçado nos fortíssimos princípios da honestidade e da honra. Escreve no Diário: “A honra estava enrai¬zada em nós: por isso nossos pais estavam contentes e confiados nos filhos” (p.l).

E foi Ana que, desde a infância, deu a essa honra o crisma das mais generosas virtudes, como ela mes¬ma nos conta.

Se percebia ter faltado nalguma coisa, mostrava logo arrependimento no rosto, de maneira que induzia os seus a se absterem de qualquer repreensão. Se algum dos irmãos, nos folguedos, se machucava, Ana desarmava os pais que acorriam para ralhar, apresentando-se e acusando-se: “Fui eu”.

Na escola tinha dó das coleguinhas mais pobres e das menos inteligentes. Sofria quando as via atrapalhadas e confusas às perguntas da professora; mais desgostosa ainda por não poder soprar e ajudá-las. Quanta alegria, porém, se elas se saíam bem! Chegava a chorar de contente.

As aulas: com que paixão as freqüentava, e foi naquelas carteiras que, como havemos de ver, se lhe desabrochou a vocação religiosa. Era diligente, pon¬tual, exemplar. Estava com sete anos quando iniciou o primeiro grau, e com doze quando teve que deixá-lo, mergulhada na mais viva aflição. Talvez fosse sua primeira grande dor, a primeira de uma corrente que devia estender-se ao longo de sua vida até a morte. Ana a descreve com sua natural simplici¬dade:

“Eu desejava muito continuar os estudos, mas mamãe não permitiu porque precisava de minha irmã - que não gostava de estudar - na alfaiataria². Assim, não me mandou mais à escola. Segundo ela, devíamos ser todas iguais, e não uma estudando e outra trabalhando. Quanta aflição para mim quando reiniciavam as aulas! Eu, ao invés de olhar nas vitrines das lojas de modas, parava diante das vitrines de livros, cadernos etc., e quando, no fim do ano letivo, via as minhas colegas aprovadas, até as menos inteligentes que eu, ficava pensando que eu também poderia estar entre elas aprovada. Por vários anos senti esse pesar, mas em casa não dizia nada para ninguém. Guardava com ciúme os livros e cadernos do último ano que freqüentei, até que um dia, não sei por quem, talvez por minha mãe, me foram tirados: encontrei a gaveta vazia. O Senhor, tão bondoso, certamente o permitiu para o meu bem: queria-me humilde, mortificada nos meus desejos” (pp. 4-5).

Eis a meta: a humildade, o sofrimento. Adeus escola! Adeus sonhos de estudos! Nem sequer a inocente lembrança do 5.° ano conservada nos queridos livros e cadernos. A renúncia devia ser completa, e Ana aceita-a serenamente, assim como antes serenamente ocultara a aflição ao reiniciar e ao findar dos anos letivos. Então, dona-de-casa para sempre? Não, irmã de todos, sobretudo dos órfãos e dos enfermos, para levar a todos Jesus Cristo.

Notas:
¹ “A ela recorríamos nós, os irmãos, para conselho e conforto. A ela pedíamos que intercedesse junto aos nos¬sos pais apresentando-lhes os nossos desejos. Por ela todos éramos bons. Só mais tarde percebemos que as suas vir¬tudes estavam em relação à sua fé em Deus e seus senti¬mentos religiosos”. São palavras de Heitor.

²
Era a profissão da família, que morava à Rua Cardúcci, num apartamento de andar térreo, adaptado a alfaiataria.

(da biografia de Tarsila Ósti: “Amor e simplicidade”, autor: CARMELO NASELLI, passionista, reeditado em italiano “Una donna di frontiera”. Sentieri umani e spirituali di TARSILLA OSTI, Milano: Ed. San Paolo, 2007)







Tarsila Ósti: testemunho luminoso de amor...

O nosso Instituto teve (e com certeza ainda existem) muitas irmãs que vivem no anonimato e na dedicação total ao Senhor. Aceitaram este jugo doce e suave, no desejo de unir-se ao Amado.

Nós, Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações, não podemos deixar de mencionar Tarsila Ósti, que viveu a sua vocação, sem alarde, na simplicidade. Na sua biografia é chamada de “vítima de amor” (pág. 44), toda voltada ao seu Jesus, conseguia arrancar horas de oração da sua jornada plena de trabalho, para contemplar longamente aquele Coração do qual tanto se sentia amada. Sentia-se atraída pela imagem do Coração de Cristo, transpassado pelo nosso amor, e com ingenuidade e simplicidade beijava-o como se estivesse beijando o próprio Cristo, seu esposo.

“Como com o sacrário, assim também dialogava amiúde com aquela imagem, colóquios espontâneos e vibrantes de amor, que lhe transformavam sempre mais o coração numa mística fornalha ardente pelo Esposo. Dócil que era à von¬tade e ação divina, ela compreendia logo o que Ele queria, o
sentido dos seus desejos e, às vezes, das suas benévolas censuras” (Naselli, C. Una donna di frontiera. Tarsilla Osti pag. 45).

A sua biografia conta outro fato, que nos faz compreender o quanto era forte a vocação ao amor da Ir. Tarsila. Depois de ouvir uma meditação sobre o Bom Pastor. Refletiu quase instintivamente sobre a graça da vocação religiosa, provando, ao mesmo tempo, um vivo sentimento de gratidão para com o Senhor por tê-la feito toda dele. Sentia-se, naquele momento, tão segura na “casa dele”, que imaginava estar, ela com as coirmãs, amarrada por uma mística corda a Jesus e que estava pedindo-lhe que apertasse ainda mais aquela corda para jamais separar-se dele, quando, de repente — conta no diário: “Senti-me atar realmente a cintura, com força, mas sem me machucar, e arrastar para dentro do sacrário. Havia ali a âmbula com a Hóstia... O Senhor ocupava tudo. Lembro-me que da minha boca saíam breves sons de alegria e contentamento: ah, ah, ah!... Se continuasse mais um minuto, passaria à outra vida. Impossível amar com tanta veemência enquanto a alma estiver unida ao corpo. Quando voltei (com o espírito), senti que estava sendo sacudida pela violência. Fui obrigada a segurar-me com as duas mãos e prender a respiração para que não me ouvissem. Olhei se as Irmãs tinham percebido alguma coisa... mas, ao redor, havia silêncio perfeito".


Irmã Tarsila sentada à frente das irmãs

Este é um exemplo dentre tantos outros que lemos na sua biografia, para fazer-nos compreender que sua realização na vida religiosa é fruto de ter encontrado um dom surpreendente, um encontro que alarga o coração. Por isso, a religiosa que é feliz com a própria escolha e saboreia essa beleza, não diz “deixei”, mas “encontrei”; não diz: “Vendi o campo”, mas “Encontrei o tesouro”. A consagrada, feliz, que encontrou a Beleza, fala muito não do que deixou, mas do que encontrou como fez Tarsila e tantos outros santos. E não tem inveja de ninguém, ao contrário, sente-se privilegiada. É um problema de pertença: logo que fazem a própria descoberta, assim como o lavrador e o mercante do Evangelho decidem prontamente “pertencer” inteiramente ao tesouro ou à pérola que encontraram. A beleza do testemunho é, portanto a pertença, não o desapegar-se e deixar tudo. Todo o resto, como conseqüência, torna-se secundário.

Veja abaixo o que já foi escrito sobre o mesmo assunto.




Sinal luminoso


O Senhor sempre suscita na Igreja santos para continuarem a propagar a sua Luz. Nosso Instituto, com a sua Graça, gozou da presença amável e santa de Tarsila Ósti, que viveu a radicalidade do Batismo, da sua consagração religiosa e encarnou o Carisma das Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Tornou-se um sinal luminoso, exemplo de amor e doação ao próximo. A Igreja reconheceu a heroicidade das suas virtudes, concedendo-lhe o título de “Venerável”, faltando poucos passos para a Beatificação. Colocamos, a seguir, na íntegra, o decreto de Venerabilidade, concedida pela Congregação para a Causa dos Santos, emitida no dia 15 de março de 2008.




CONGREGATIO DE CAUSIS SANCTORUM
R O M A N A
BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO DA SERVA DE DEUS

TARSILLAE A CRUCIFIXO OSTI
(in saec: Annae)
RELIGIOSAE PROFESSAE - CONGR. MISSIONAR. A
SS. CORDIBUS IESU ET MARIAE (1895-1958)

DECRETUM SUPER VIRTUTIBUS
“Estou nas mãos do Senhor e quero ficar contente por tudo o que Ele permite. (...) Estou contente com o meu estado (...) Sinto-me feliz pois trabalhei até o fim, até cair por terra. Que seja tudo para a glória dos Sagrados Corações, para a minha salvação, para o bem do Instituto e de todo o mundo”. (Carta à Superiora geral do dia 3 de setembro de 1958 em Proc. Doc. f. 149).
Estas palavras que a Venerável Serva de Deus Irmã Tarsila do Crucifixo-Osti escreveu, podem ser consideradas não somente a síntese da sua vida, como também o seu testamento espiritual.

A Serva de Deus nasceu no dia 6 de dezembro de 1895 em Pola, pertencente, na época, ao Império Austro-Húngaro.

A família da Serva de Deus era cristã, mas não muito fervorosa; o seu sobrenome originário Host, foi adaptado ao italiano Osti.

A menina foi batizada com o nome de Ana, com seis meses de idade – algo excepcional para os costumes do tempo – e recebeu uma educação precária seja no campo religioso, seja no cultural, podendo freqüentar somente o ensino elementar. A instrução insuficiente foi um espinho que sempre a acompanhou. Desde seus primeiros anos de vida, a Serva de Deus demonstrou grande sensibilidade, delicadeza de ânimo, espírito de serviço e recebeu sinais da predileção de Deus. Ana, todavia, para não ir contra o estilo de vida da família, mesmo sentindo desejo, não se aproximava freqüentemente da Eucaristia. A mesma timidez e o mesmo temor reverencial para com os pais impediram- na, por muito tempo, de manifestar os sinais da vocação que ela intuiu – segundo o seu próprio testemunho – na idade de onze anos.

Com a explosão da 1ª Guerra mundial, a maior parte da cidade de Pola foi evacuada e a família da Serva de Deus foi transferida para um campo de refugiados na Hungria, onde dois dos seus irmãos faleceram.

Terminada a guerra e passado o entusiasmo pela união ao Reino da Itália, iniciou em Pola um período de forte crise econômica que abateu também a família da Serva de Deus, e toda a Ístria passou por conflitos sociais e políticos.

Neste contexto de ofensa à dignidade humana, se faz presente a obra das Irmãs dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que começaram a trabalhar no hospital militar e no jardim de infância, abrindo, entre outras obras, um ateliê feminino e um orfanato.

Depois do ano de 1920, a situação da família Osti agravou-se, vivendo privações, tensões e mau-humor. Crescia, no entanto, sempre mais em Ana, a atração para uma vida autenticamente cristã e de consagração. Depois de um breve tempo de namoro, entre lutas com as pessoas que lhe eram próximas, decidiu não adiar mais e, finalmente, aos trinta anos, entrou no Instituto das Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, iniciando o noviciado com o nome de Irmã Tarsila do Crucifixo. Terminado o primeiro ano do noviciado, foi-lhe confiado o serviço no hospital, onde, superada a instintiva aversão, dedicou-se com amor apaixonado à assistência aos doentes. Posteriormente, mesmo depois da consagração definitiva com os votos solenes, perseverou no encargo de enfermeira na própria pátria, gastando a própria vida sem reservas no zelo espiritual e material dos doentes.

Ao mesmo tempo, a sua vida interior se aperfeiçoava sempre mais e se reforçava.

O zelo com o qual Irmã Tarsila constantemente e diligentemente cuidou dos doentes destacou-se sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra foi transferida para Lanciano (Chieti), no encargo de assistência domiciliar e auxílio aos pobres. Neste período delicado escreveu a sua autobiografia, por ordem da Madre Geral.

Três anos depois foi nomeada superiora do pequeno hospital em Piedimonte d’Alife, na província de Caserta. A pobreza era grande e as necessidades imensas, mas as Irmãs, animadas pelo testemunho da Serva de Deus e guiadas pela sua sabedoria materna, doavam como melhor podiam seu serviço fiel e incansável. Nesse período manifestou-se e tornou-se mais grave a doença que, gradualmente, se transformou em dores violentas. Devastada pela metástase e, com o corpo deformado, a Serva de Deus foi transportada para Roma, onde, no dia 26 de dezembro de 1958, depois de receber o Viático e de pedir a bênção da Madre Geral, descansou no Senhor.

Irmã Tarsila do Crucifixo destaca-se, para nós, como uma mulher de suprema fé, de grande piedade e profunda religiosidade, realmente submissa à vontade de Deus, repleta de zelo pela Sua glória, mansa e cheia de bondade, forte e corajosa, particularmente devota da Santíssima Eucaristia, modelo de altruísmo evangélico e de autêntica pobreza.

Continuou a exercitar a esperança e a fortaleza, mesmo quando, por causa da doença, começou a assemelhar-se a um pequeno monstro, com o queixo que quase lhe tocava o peito, formando uma ferida e com a cabeça torta, inclinada para a direita.

Era sempre muito afável e compreensiva para com o próximo e manifestava estas suas qualidades e atitudes, seja durante o trabalho no hospital, seja na comunidade.

A Serva de Deus revelou-se sempre prudente, seja nas suas coisas íntimas, seja como enfermeira, seja como superiora, exercitando o encargo com prudência, doçura e fortaleza.

Ela, mulher justa, demonstrou firmeza e fidelidade aos seus deveres, ininterruptamente, sem omissões, sem cansaço, com uma assiduidade absoluta no trabalho de enfermagem. Mulher de serviço, de oração, de dedicação, de lealdade, de espírito de sacrifício, de serenidade, prudência, respeito para com o próximo, de aceitação das dificuldades, com o heroísmo de uma vida quotidianamente vivida em santidade.

Quanto à temperança, a Serva de Deus se distinguia sempre pelo domínio de si, mansidão, extraordinária doçura, e espírito de penitência.

Todos os textos estão de acordo em afirmar que Irmã Tarsila era muito reservada e que viveu a castidade em forma heróica: ofereceu a sua pureza como um dom místico a ser entregue ao seu celeste Esposo.

O exercício heróico da obediência é evidente em toda a sua vida. Unia a (essa) obediência à humildade, pois amava o anonimato e não gostava de se aparecer, nem procurava aplausos, atribuindo todos os méritos ao Senhor.

Imediatamente depois da morte da Serva de Deus, foi-se solidificando e confirmando a fama de santidade que havia adornado já, durante a vida, a Serva de Deus, permitindo assim, em 1987, com o "Nihil obstat" da Santa Sé do dia 14 de julho de 1987, a abertura do Processo, concluído em 1988 e cuja validade jurídica foi reconhecida pela Congregação para as Causas dos Santos, com decreto do dia 14 de junho de 1991.

Preparada a Positio, foi discutido junto ao Dicastério se a Serva de Deus exercitara as virtudes em grau heróico. No dia 27 de outubro de 2006 realizou-se, com êxito unanimemente positivo, o Congresso peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardeais e Bispos, durante a Sessão Ordinária do dia 4 de março de 2008, ouvida a relação do Exc.mo D. Girolamo Grillo, Arcebispo emérito de Civitavecchia, Ponente (relator) da Causa, reconheceram que a Ven. Serva de Deus exerceu em grau heróico as virtudes teologais, cardeais e as outras virtudes anexas.

Realizada, portanto, uma atenciosa relação de todas essas coisas ao Sumo Pontífice Bento XVI, por parte do abaixo-assinado Card. Prefeito, Sua Santidade, depois de ouvir e aprovar os juízos da Congregação para a Causa dos Santos, ordenou que se preparasse o Decreto sobre as virtudes heróicas da Serva de Deus.

Depois de se realizar tudo isso, segundo os ritos, chamados pelo Sumo Pontífice, o abaixo-assinado Cardeal Prefeito juntamente com o Relator da Causa, eu, Secretário da Congregação e outros membros convocados segundo o costume, o Beatíssimo Padre solenemente declarou: consta que a Serva de Deus Irmã Tarsilla do Crucifixo (no século: Ana Osti), Religiosa professa da Congregação Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, praticou as virtudes Teologais de Fé, Esperança e Caridade, para com Deus e para com o próximo, como também as Virtudes Cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza e as outras anexas para o caso e pelo fim tratado.

O Sumo Pontífice ordenou que se tornasse público este decreto e (de) transcrevê-lo na Ata da Causa dos Santos.

Realizado em Roma, no dia 15 do mês de março do ano do Senhor 2008.

JOSÉ Card. SARAIVA MARTINS
Prefeito

+ MICHAËL DI RUBERTO
Arcebispo titular de Biccari
Secretário