sábado, 10 de setembro de 2011

Venerável Irmã Tarsila do Crucifixo Osti


4ª parte:

A VOCAÇÃO


 Um forte chamado a ser discípula de Jesus
Naquela manhã Ana foi à igreja. Um estremeci­mento esquisito no coração fazia-a pressentir que o Senhor finalmente lhe falaria. Apressou o passo, entrou no templo e se ajoelhou no primeiro banco perto da porta. Ali esperou a sua voz. De fato, “do altar — conta ela no Diário — do lado do Evangelho, como se Ele estivesse em pé (mas eu não o vi), chegou-me a sua voz doce e suave: Lembra-se da idéia que você tinha de se tornar Irmã?” (p. 18).
Era verdade. Em criança surgira-lhe o desejo de entrar em convento e, quando mocinha, sonhara com essa realização como uma das coisas mais lindas que lhe pudessem acontecer na vida. Agora, absorta em oração naquela igreja, desfilava-se-lhe diante da mente uma série de lembranças, todas ligadas à voca­ção religiosa, desde os seus onze anos até aquele dia.
Com onze anos de idade, freqüentava o 4.° ano primário. Um dia o professor de religião, Pe. Colombini, falando dos conselhos evangélicos, disse às alunas: "Oh, essas coisas não são para vocês, mas para aquelas que querem ser religiosas... Sabem? As religiosas não vão a passeios, a teatro, a divertimentos, etc. Em poucas palavras — escreve no Diário — explicou e fez compreender a vida religiosa. Depois acrescentou: ‘Quem de vocês gostaria de ser religiosa? Levante a mão!’. Enquanto ele contava as privações mundanas das Irmãs, eu sentia que essas privações não me importavam nada e que gostaria da vida das religiosas. Tive vontade de levantar a mão, mas não o fiz de medo que o sacerdote fosse aos meus pais e recebesse uma recusa. Não queria que o padre ficasse desgostoso com os meus” (p. 4).
Foi uma faísca, a primeira; mas ela se tornou incêndio que abrasou o coração de Ana quando, certa manhã, uma Irmã dos Sagrados Corações foi pedir esmola à Casa Ósti. A menina não pôde conter o enlevo. Acompanhou a religiosa à porta e ficou a contemplá-la com olhar insaciável até que desapare­ceu no fim da rua.
O mesmo desejo experimentou quando, durante a doença de Zaira, uma Irmã foi visitar a enferma no acampamento austríaco, onde, como sabemos, a família morava, no  período da primeira guerra mundial. Mas como realizar o desejo naquela difícil circunstância? E como deixar a mãe no meio de tanta dor? Todavia, o pensamento da vocação voltava sempre:

“Lembro-me bem — diz no Diário — era depois do almoço e eu estava enxugando os talhe­res colocando-os diretamente na gaveta da mesa. Pensava na minha aspiração e...  no meu dever. Então, ouvi, dentro de mim, uma voz: “Depois da morte de Zaira, você poderá ser freira” (p. 10).
Entretanto as condições familiares, as provações e a ascese interior constrangida pelo clima de inibição, arriscaram obscurecer e retardar-lhe a vocação[1]. Um dia, porém, depois da morte de Zaira, uma voz soou-lhe tempestivamente ao espírito para recordar-lhe o grande desejo. Enquanto atendia aos afazeres domésticos, ouvia a voz “Agora você pode deixar seus pais; não precisam mais de você. Você deve operar, deve fazer o bem” (p. 16). O parêntese do noivado fizera-a sentir mais a necessidade de realizar a sua vocação, porque nunca como nesse tempo experimentara o desejo veemente de perten­cer só a Deus.


Ajoelhada naquele banco, pensava em tudo isso e agradecia a bondade de Deus que a tinha conduzido até ali: estava deveras contente de se tornar religiosa, de deixar os parentes, de se garantir uma feliz velhice e uma santa morte. Tomada da mais pura alegria, levantou-se e foi perguntar a uma velhinha que estava ali perto rezando o terço: “Senhora, por favor; eu queria me tornar freira; a quem deveria dirigir-me?” E a velhinha: “Filha, vá às Irmãs dos Sagrados Corações” (p. 18). Foi no mês de novembro de 1924.
Sim, agora podia realizar o antigo desejo de ser religiosa, mas superando não poucas dificuldades: as da Madre Geral, que, prudentemente, quis provar-lhe as intenções por dois meses, e as causadas pela família. Nesse tempo, desde 1.° de janeiro de 1925, teve a alegria de começar a receber a sagrada Comu­nhão diariamente. Para ela era inebriar-se de Amor; e queria que esse Amor inebriasse aos outros tam­bém. Por isso, ingenuamente, demorava de propósito entre as freguesas do mercado, pensando que assim lhes levava Jesus às almas.

“Agia eu — diz no Diário — com ignorância, simplicidade e amor. Não entendia nada de soberba espiritual, nem sequer a conhecia de nome. Nunca lera um livro bom, uma vida de santos: nem sabia que existiam” (p. 19).


[1] Períodos bons e de devoção” sucediam-se aos de “tibieza, abandono da oração e assim também de alguma culpa”. Ela sentia tudo isso e procurava  reagir, multiplicando os desejos, reforçando os propósitos e intensificando a oração, mesmo reconhecendo que “não conseguia fazer melhor estando em família. (14)

3ª parte:

Os primeiros sinais visíveis do invisível


Durante a enfermidade da tia Tonina, deu-se um fato curioso. Na noite do dia 2 de setembro, isto é, um dia antes de morrer, a enferma começou a con­versar com o irmão falecido vários anos antes. Fala­vam sobre a beleza do paraíso, Nossa Senhora e dolorosos acontecimentos que depois se realizaram pontualmente, como a dolorosíssima doença e morte da mãe de Ana, a enfermidade da avó e a do tio. A jovem escutou estupefata, mas não disse nada para a mãe, conservando no coração a sua imensa dor. A respeito dessas coisas extraordinárias, notamos que no Diário há grande número de referências a visões e vozes sobrenaturais e, até, descrições das mesmas, relatadas,  porém,  com a costumeira simplicidade. Conta a visão de Nossa Senhora, quando não tinha ainda seis anos, e do demônio, que lhe agarrou o pé, quando estava com sete anos de idade. Teve freqüen­tes revelações sobre a sua futura vida de freira, as quais lhe caracterizam a espiritualidade toda cheia de sobrenatural. Veremos tudo isso em seguida, mas adiantamos que o presente esboço não nos permite aprofundar este aspecto singular da espiritualidade de Irmã Tarsila. Limitamo-nos a relevar, por aquilo também que iremos dizer adiante, que talvez nem todas as visões se devam tomar em sentido estrita­mente teológico, pois as palavras e expressões usadas pela serva de Deus não conhecem a perfeição da teologia mística. Do mesmo modo, as vozes, de que fala amiúde no seu itinerário espiritual, podem entender-se ou como locuções divinas propriamente ditas, ou como inspirações interiores com a finalidade de colocar sob o influxo da divina vontade determi­nados atos de sua vida. Nem se deve descuidar de um pormenor: visões e vozes ocorrem, muitas vezes, quando, estando ainda em família, ela leva uma vida sacramental quase inexistente pelos motivos já con­tados.

Ao entrar no Instituto dos Sagrados Corações, confessará à Superiora Geral, Madre Giuseppina Mancinelli, que recebeu a sagrada Comunhão duas vezes por ano; na verdade, confidenciou no diário, fazia dois anos que a recebia uma só vez; de maneira que, ao todo, tinha comungado apenas cinco vezes. Vencida pela vergonha, contara uma pequena men­tira, que lembraria depois com grande amargura. Devemos deduzir disso que por alguns anos nem cumpriu o preceito pascal. Como explicar, então, a vida de oração e de sacrifício, a consciência de “sentir Deus” — como já vimos — e o desejo de corres­ponder à vocação religiosa que expressa naquela época? A resposta não nos parece fácil, mas talvez se possa encontrá-la na excessiva timidez e ingenui­dade que ela faz ressaltar, aqui e acolá, no diário. Em certo ponto até diz claramente que quereria aproximar-se dos sacramentos com mais frequência, mas a impedia o pensamento de ir contra o estilo da família e de ter que prestar contas em casa. Assim, não conseguia romper a barreira que existia entre o seu espírito religioso e a prática dos sacramentos. É essa mesma timidez que a faz assistir inibida à extrema recusa dos sacramentos por parte de Zaira, e que a faz aceitar com resignação o noivado que os pais queriam e esperar pacientemente o dia de seu ingresso na Congregação até aos vinte e oito anos de idade[1].

Pensamos que essa razão psicológica seja a chave para se compreender a original espiritualidade de Irmã Tarsila antes de se tornar religiosa. Não há que negar: ela é forte e corajosa perante todo tipo de renúncia, é uma alma extraordinariamente gene­rosa, mas, diante do ambiente familiar, não assíduo na prática religiosa, não sabe reagir a não ser supor­tando tudo com doçura, só apelando para o seu “templo” interior que, na realidade, é o que mais sente prepotente a necessidade de Deus[2]. Sobre­tudo não discute diante da vontade dos pais e, tímida e obediente como é, respeita-a até o heroísmo, até o dia em que, com a graça de Deus e o espírito renovado nos sacramentos, deixará tudo para voar ao noviciado dos Sagrados Corações.

Acenamos ao noivado: foi o último impedimento à vocação. Um jovem napolitano, funcionário do correio de Pola, pediu sua mão aos pais[3], e Ana, embora contrariada, teve de obedecer. Quis, porém, invocar a ajuda de Nossa Senhora para que a liber­tasse daquela situação, e a Santíssima Virgem a atendeu dispondo as coisas de modo que, depois de apenas um mês de noivado, tudo acabasse[4]. A alegria de Ana foi imensa. Lembrou-se, então, das sábias palavras que lhe disse uma boa senhora um ano antes: "Filha, o que o Senhor destinou para a senhora há de se realizar; não precisa ir procurar; tudo chegará no devido tempo" (p. 17). Ela correu à igreja para pedir a Deus que lhe manifestasse a sua vontade[5]. Continuou na oração por uma semana, com fé sempre mais ardente e com a certeza de ser atendida.
E foi atendida.

Notas:


[1] Ela fala desse tempo como de uma provação que Deus  quis porque  "talvez eu  fosse  orgulhosa  de  nunca me ter aproximado de um homem como se o mérito fosse meu",  (pp. 15-16).
[2] A respeito do ambiente familiar, temos um escla­recimento de Heitor:  "Tal modo de agir de minha irmã tinha essencialmente origem de sua timidez ou, melhor, de seu medo de desagradar. Ninguém a impediria de aproxi­mar-se  mais freqüentemente  da sagrada  Comunhão.  Eu mesmo, quando estudante, a recebia-a várias vezes por ano juntamente com os meus colegas, e os meus pais sempre gostaram que participasse do coral que acompanhava a Missa do Pe. Gregório Nider, nosso professor de religião. Queriam que freqüentasse as cerimônias do mês de Maria, as da semana santa, etc. Meu pai nunca deixava de ir à Missa em ocasião como Natal, Primeiro do Ano, Páscoa e, quando podia, nos domingos".   (Carta de 7 de julho de 1960).
[3] Conheceu Ana na agência do correio, onde ela ia retirar as encomendas do pai. Suas gentilezas “exageradas” enfastiavam bastante a moça que pediu, mas em vão, que ao correio fosse a mana Maria. Era mister resignar-se e aceitar todos aqueles cumprimentos. Um dia ele a parou na rua, e a jovem teve de agüentar uma verdadeira decla­ração de amor. (p. 16).
[4] O rapaz tinha ido, por quinze dias, ao correio de Rovigno e tinha deixado pertences e correspondência em casa Ósti. Ana achou que devia remexer-lhe nas cartas a fim de conhecer-lhe melhor ânimo e conduta. Foi providen­cial, porque numa carta encontrou referência a uma doença que ele tivera. Isso deu coragem a ela e à mãe para romper o compromisso apesar dos protestos do pretendente.
[5] Nunca tinha feito novenas, não tinha livros de devoção, mas “rezava assim como lhe saía do coração”, com simplicidade — dizia ela na véspera de sua entrada no Instituto dos Sagrados Corações.



2ª parte (continuação):

A primeira grande alegria: Crisma e Primeira Comunhão

Jesus a chamava, convidava-a para o primeiro encontro: a Primeira Eucaristia. Preparou-se a ela freqüentando, por conselho de Pe. Colombini, já seu professor de religião, o curso de catequese na catedral. O ano de 1909 marcou para Ana a graça de dois sacramentos: a Crisma, no dia de Pentecostes, 30 de maio; a Primeira Comunhão, no dia 29 de junho, festa dos apóstolos São Pedro e São Paulo.

Foi uma transformação completa na história de sua alma sedenta de espiritualidade. Deus bateu-lhe ao cora¬ção puro para ali pôr a sua mesa (Ap 3,20). Que alegria sentir o Senhor na alma! Na mesma tarde daquele dia, experimentou pela primeira vez uma misteriosa presença, uma misteriosa vibração que a fez percorrer com o coração a estremecer o caminho de volta da igreja de Nossa Senhora das Graças, aonde fora com a família. “Como a gente sente o Senhor!” dizia de si para si; e pensava que todos experimentavam o mesmo efeito no dia da Primeira Comunhão.


“No dia seguinte — escreve no Diário — falando com mamãe, contei o fato dizendo que nunca imagi¬naria que se gozasse tão sensivelmente o Senhor vivo dentro de nós. Mamãe escutou e não disse nada. Tivera eu recebido mais freqüentemente a sagrada Comunhão! Mas ninguém me ensinou e, como em casa não existia a bela prática da Comunhão fre¬qüente, eu não ousava falar em comungar” (p. 6).

Encontramos aqui o humilde reconhecimento da falta de vida sacramental e o pesar da alma já adiantada na ascese que lastima o bem não realizado. Mas, nem por isso o Senhor parou de bater ao seu coração... A necessidade crescente de oração inun¬dava-lhe a alma em casa, durante os afazeres, enquanto a avó ia ao mercado; e com ingenuidade estupefaciente, não conseguindo juntar trabalho e oração, deixava o serviço para atender às rezas. A avó, quando voltava, exclamava: “O que aconteceu? Ficou dormindo?” Ana permanecia em silêncio, mas sentia-se feliz rezando e escutando a voz do Senhor. Sobretudo gostava de passar freqüentes dias no recolhimento, perdida na mais santa alegria, repleta de paz e suavidade.

Providencialmente a Primeira Comunhão lhe robustecera a alma, e a oração a preparara para a união definitiva com o Cristo. Com efeito, a dor lhe reservava provações sem número.

De início, foi a morte de entes queridos; em seguida, a primeira guerra mundial que desferiu um rude golpe sobre a família Ósti. Uma irmãzinha, Gema, de catorze meses, voou para o céu, quase para lá encontrar a grande Gema, de Lucca (+1903), que seria depois Santa Gema Galgâni. Mal passaram ses¬senta dias e faleceu o primeiro irmãozinho também, Ricardo, com apenas seis anos de idade . Ana tinha então só poucos anos e a dor talvez pudesse não ser tão profunda, mas faleceram também um maninho, Mário, e uma irmã, Zaira, quando ela estava com vinte anos e, além de sua dor, podia compreender o imenso sofrimento dos pais.

Mário era seu predileto. Morreu de sarampo em 1.° de dezembro de 1915, no acampamento de prófugos de Potendorff-Landegg, aonde toda a família tinha sido transferida pelas autoridades, depois de quatro meses passados na Hungria, quando estourou a primeira guerra mundial .

As condições econômicas podiam até considerar-se boas, pois o pai subira a diretor da alfaiataria, na qual era coadjuvado pela esposa e por uma filha , mas a aflição pela perda daquele menino apertava sempre o coração de todos, especialmente de Ana, que fora para ele uma segunda mãe. “A minha dor não passava mais...”, escreve no Diário (p. 8).

Ainda por cima, Zaira, no inverno de 1916 contraiu uma doença contagiosa. Como tratá-la sem remédios, naquelas privações impostas pela guerra? Todo sacrifício foi feito, mas em vão. Exatamente no dia 1.° de novembro de 1918, quando todo o mundo delirava de alegria pela vitória italiana sobre a Áustria, Zaira teve uma crise violentíssima, seguida de outras em Pola, aonde a família voltara, terminada a guerra. Ana não se poupava, lavando roupa e mais roupa e assistindo a querida enferma sem nenhum medo de contágio. À mãe, que lhe recomendava prudência e precaução, respondia ela: “Não tenha medo, mamãe; deixe-me fazer; sei com certeza que não pegarei a doença”. E a mãe: “Mas o que vai dizer o povo?” E Ana, confiante: “Não se preocupe com os outros; façamos o que pudermos; eu posso fazê-lo. Não se preocupe!” Na certa, referia-se a uma voz interior que, um dia, lhe tinha assegurado: “Não receie; pode lavar a roupa (da enferma); a doença, você não a contrairá” (p. 10). E Ana ficou ao lado da irmã como Anjo tutelar até a morte dela, que aconteceu em 27 de setembro de 1920.

Dupla dor trouxe-lhe ao coração esse faleci¬mento: a perda da pobre Zaira na primavera da vida e o fato de ela ter recusado que se chamasse um sacerdote para os últimos sacramentos. O Diário registra o acontecimento com a simplicidade que lhe é principal mérito, sem polêmica, reduzindo os termos do drama ao seu puro significado interior.

“Zaira não queria saber de padres, profunda¬mente desgostosa com um a quem se confessara e do qual recebera a sagrada Comunhão no acampamento. Depois de sua morte, pedi à mamãe que, se eu ficasse doente, não me deixasse faltar o sacerdote, pois eu não temia morrer e queria muito morrer bem. Às vezes, eu expressava o desejo de que, em caso de doença, me levassem ao hospital, julgando que teria melhor assistência espiritual e, não tendo os paren¬tes por perto, poderia com mais calma e paz pensar no Senhor e manter-me mais unida a Ele. Os pais, que não compreendiam meus motivos, não queriam que falasse nisso e diziam que eu não tinha coração” (p. 11).

Essas palavras revelam que a graça realizava o seu trabalho em profundidade. Sem dúvida aquela maneira de morrer produziu nela uma espécie de trauma que lhe abalou o espírito a ponto de fazê-la julgar necessária a separação dos seus, para ter melhor assistência espiritual e poder ficar em mais intimidade unida a Deus. Mas quem escreve essas coisas mostra que já o está com vínculo particular de caridade e que já está progredindo no espírito de oração; revela de antemão em germe a vocação ao estado religioso, só lhe faltando a separação da família para voltar-se unicamente a Deus.

De resto, Ana sentia-se uma “consagrada”, pois tudo tinha oferecido a Deus num ímpeto de amor a Ele. Não lhe importava que o seu corpo formoso — alta estatura, olhos claros, cabelo loiro, semblante delicado — atraísse os olhares de muitos rapazes. E narra-o sem rodeios, com simplicidade:

“Eu era bonitinha e tinha vários cortejadores. Isso divertia-me e ficava contente de me ver olhada. Porém, confiança com ninguém: no máximo, um cumprimento. Muitas vezes, percebia que estava sendo seguida; então tomava-me o medo e eu estugava o passo. Talvez não fosse virtude, mas timidez. Os seguidores achavam ruim e não me olhavam mais. Assim permitia o bom Deus porque me queria toda para si” (p. 6).

O humilde aceno à timidez, na realidade, não esgota o problema de sua virgindade. Esta encontra a verdadeira explicação na propensão natural que sentia para a vida religiosa e, mais ainda, na sensação que lhe ia aflorando na consciência de que era chamada para ela.

De fato, Deus a trabalhava finamente permitin¬do novas dolorosas provações, tanto que ela podia escrever: “Teria muitas coisas para contar dos anos da minha juventude, mas todas de sofrimento, dores e privações, que não creio interessante descrevê-las” (p. 6). Provações que Ana suportou com exemplar paciência e fortaleza, como quando o pai, em críticas condições econômicas, teve dissabores com um cunhado , demitido do Arsenal da Marinha, e quando teve de tomar sobre si a assistência da tia Tonina, meia-irmã da mãe, porque estava gravemente doente do coração. Foi tarefa realmente trabalhosa, pois, no mesmo tempo, tinha que tratar de Zaira.; e mais dura ainda nas longas noites, quando a paciente sofria muito e delirava. Seu falecimento aconteceu em 3 de setembro de 1920, vinte e quatro dias antes da morte de Zaira .

(da biografia de Tarsila Ósti: “Amor e simplicidade”, autor: CARMELO NASELLI, passionista, reeditado em italiano “Una donna di frontiera”. Sentieri umani e spirituali di TARSILLA OSTI, Milano: Ed. San Paolo, 2007)


1ª parte:
I
A INFÂNCIA

A primeira grande dor: deixar a escola

Irmã Tarsila era filha de Pedro Ósti (Host-Ivessich) e de Maria Maraspin. Nasceu em 6 de dezembro de 1895 em Pola, na Istria, naquele tempo sob a dominação austro-húngara.

Por curioso equívoco, na cerimônia do batizado, ao invés de ser chamada Alma, como a mãe queria, recebeu o nome de Ana. Na verdade, este nome lhe caracterizaria as virtudes familiares. É com ele que nós a chamaremos até sua entrada no claustro.

Com Ana resplandeceu uma luz sobre a família Ósti, quer assinalando-a com a garantia da salvação, quer ajudando-a nas modestas condições econômicas pela sua presença eficiente na lida de cada dia em favor dos quatro irmãos e das três irmãs. Só dois deles e uma delas, porém, lhe sobreviveriam.

Seu temperamento trazia-lhe serviço e afeto, porque, meiga, complacente, pronta a qualquer renúncia e sacrifício, estava sempre à disposição dos outros, constantemente humilde e prestativa. Seu irmão Heitor lembra que “nunca viu nela um movimento de revolta, irritação ou ou impaciência”.¹

Não somos entusiastas dos santos idealizados e preservados do mal desde o nascimento, e menos ainda de seus biógrafos que reduzem o humano, tirando, assim, a seus heróis o fascínio da conquista trabalhosa do bem e o prodígio do amor que pode e sabe inserir o Cristo na fraqueza do homem. Por isso, é bom de antemão dizermos que Ana, menina e moça, teve realmente um temperamento privilegiado, mas teve mais ainda a vontade firme e constante de sempre melhorar. Com efeito, encontramos no Diário referências a pequenas brigas com os irmãozinhos, a sentimentos de vaidadezinha feminina, a alguma resposta arrogante pelas repreensões recebidas; sobretudo encontramos a sincera confissão da falta de consistente piedade religiosa, fruto do ambiente familiar, do qual fala com delicadeza e humilde candura.

Os vinte e oito anos passados na casa paterna representam no itinerário espiritual nada mais que uma espera para a grande subida. Enquanto o tempe¬ramento se lhe afina e o coração se alarga abrindo-se a todas as cordas da sensibilidade e do sacrifício, o espírito invoca a mão sábia que há de lhe forjar a santidade. A espera transcorre-lhe na amargura de ver os seus viverem apenas de fé tradicional que pres¬cinde da rigorosa observância dos mandamentos da Igreja; mas alegra-se também por saber seu lar alicerçado nos fortíssimos princípios da honestidade e da honra. Escreve no Diário: “A honra estava enrai¬zada em nós: por isso nossos pais estavam contentes e confiados nos filhos” (p.l).

E foi Ana que, desde a infância, deu a essa honra o crisma das mais generosas virtudes, como ela mes¬ma nos conta.

Se percebia ter faltado nalguma coisa, mostrava logo arrependimento no rosto, de maneira que induzia os seus a se absterem de qualquer repreensão. Se algum dos irmãos, nos folguedos, se machucava, Ana desarmava os pais que acorriam para ralhar, apresentando-se e acusando-se: “Fui eu”.

Na escola tinha dó das coleguinhas mais pobres e das menos inteligentes. Sofria quando as via atrapalhadas e confusas às perguntas da professora; mais desgostosa ainda por não poder soprar e ajudá-las. Quanta alegria, porém, se elas se saíam bem! Chegava a chorar de contente.

As aulas: com que paixão as freqüentava, e foi naquelas carteiras que, como havemos de ver, se lhe desabrochou a vocação religiosa. Era diligente, pon¬tual, exemplar. Estava com sete anos quando iniciou o primeiro grau, e com doze quando teve que deixá-lo, mergulhada na mais viva aflição. Talvez fosse sua primeira grande dor, a primeira de uma corrente que devia estender-se ao longo de sua vida até a morte. Ana a descreve com sua natural simplici¬dade:

“Eu desejava muito continuar os estudos, mas mamãe não permitiu porque precisava de minha irmã - que não gostava de estudar - na alfaiataria². Assim, não me mandou mais à escola. Segundo ela, devíamos ser todas iguais, e não uma estudando e outra trabalhando. Quanta aflição para mim quando reiniciavam as aulas! Eu, ao invés de olhar nas vitrines das lojas de modas, parava diante das vitrines de livros, cadernos etc., e quando, no fim do ano letivo, via as minhas colegas aprovadas, até as menos inteligentes que eu, ficava pensando que eu também poderia estar entre elas aprovada. Por vários anos senti esse pesar, mas em casa não dizia nada para ninguém. Guardava com ciúme os livros e cadernos do último ano que freqüentei, até que um dia, não sei por quem, talvez por minha mãe, me foram tirados: encontrei a gaveta vazia. O Senhor, tão bondoso, certamente o permitiu para o meu bem: queria-me humilde, mortificada nos meus desejos” (pp. 4-5).

Eis a meta: a humildade, o sofrimento. Adeus escola! Adeus sonhos de estudos! Nem sequer a inocente lembrança do 5.° ano conservada nos queridos livros e cadernos. A renúncia devia ser completa, e Ana aceita-a serenamente, assim como antes serenamente ocultara a aflição ao reiniciar e ao findar dos anos letivos. Então, dona-de-casa para sempre? Não, irmã de todos, sobretudo dos órfãos e dos enfermos, para levar a todos Jesus Cristo.

Notas:
¹ “A ela recorríamos nós, os irmãos, para conselho e conforto. A ela pedíamos que intercedesse junto aos nos¬sos pais apresentando-lhes os nossos desejos. Por ela todos éramos bons. Só mais tarde percebemos que as suas vir¬tudes estavam em relação à sua fé em Deus e seus senti¬mentos religiosos”. São palavras de Heitor.

²
Era a profissão da família, que morava à Rua Cardúcci, num apartamento de andar térreo, adaptado a alfaiataria.

(da biografia de Tarsila Ósti: “Amor e simplicidade”, autor: CARMELO NASELLI, passionista, reeditado em italiano “Una donna di frontiera”. Sentieri umani e spirituali di TARSILLA OSTI, Milano: Ed. San Paolo, 2007)







Tarsila Ósti: testemunho luminoso de amor...

O nosso Instituto teve (e com certeza ainda existem) muitas irmãs que vivem no anonimato e na dedicação total ao Senhor. Aceitaram este jugo doce e suave, no desejo de unir-se ao Amado.

Nós, Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações, não podemos deixar de mencionar Tarsila Ósti, que viveu a sua vocação, sem alarde, na simplicidade. Na sua biografia é chamada de “vítima de amor” (pág. 44), toda voltada ao seu Jesus, conseguia arrancar horas de oração da sua jornada plena de trabalho, para contemplar longamente aquele Coração do qual tanto se sentia amada. Sentia-se atraída pela imagem do Coração de Cristo, transpassado pelo nosso amor, e com ingenuidade e simplicidade beijava-o como se estivesse beijando o próprio Cristo, seu esposo.

“Como com o sacrário, assim também dialogava amiúde com aquela imagem, colóquios espontâneos e vibrantes de amor, que lhe transformavam sempre mais o coração numa mística fornalha ardente pelo Esposo. Dócil que era à von¬tade e ação divina, ela compreendia logo o que Ele queria, o
sentido dos seus desejos e, às vezes, das suas benévolas censuras” (Naselli, C. Una donna di frontiera. Tarsilla Osti pag. 45).

A sua biografia conta outro fato, que nos faz compreender o quanto era forte a vocação ao amor da Ir. Tarsila. Depois de ouvir uma meditação sobre o Bom Pastor. Refletiu quase instintivamente sobre a graça da vocação religiosa, provando, ao mesmo tempo, um vivo sentimento de gratidão para com o Senhor por tê-la feito toda dele. Sentia-se, naquele momento, tão segura na “casa dele”, que imaginava estar, ela com as coirmãs, amarrada por uma mística corda a Jesus e que estava pedindo-lhe que apertasse ainda mais aquela corda para jamais separar-se dele, quando, de repente — conta no diário: “Senti-me atar realmente a cintura, com força, mas sem me machucar, e arrastar para dentro do sacrário. Havia ali a âmbula com a Hóstia... O Senhor ocupava tudo. Lembro-me que da minha boca saíam breves sons de alegria e contentamento: ah, ah, ah!... Se continuasse mais um minuto, passaria à outra vida. Impossível amar com tanta veemência enquanto a alma estiver unida ao corpo. Quando voltei (com o espírito), senti que estava sendo sacudida pela violência. Fui obrigada a segurar-me com as duas mãos e prender a respiração para que não me ouvissem. Olhei se as Irmãs tinham percebido alguma coisa... mas, ao redor, havia silêncio perfeito".


Irmã Tarsila sentada à frente das irmãs

Este é um exemplo dentre tantos outros que lemos na sua biografia, para fazer-nos compreender que sua realização na vida religiosa é fruto de ter encontrado um dom surpreendente, um encontro que alarga o coração. Por isso, a religiosa que é feliz com a própria escolha e saboreia essa beleza, não diz “deixei”, mas “encontrei”; não diz: “Vendi o campo”, mas “Encontrei o tesouro”. A consagrada, feliz, que encontrou a Beleza, fala muito não do que deixou, mas do que encontrou como fez Tarsila e tantos outros santos. E não tem inveja de ninguém, ao contrário, sente-se privilegiada. É um problema de pertença: logo que fazem a própria descoberta, assim como o lavrador e o mercante do Evangelho decidem prontamente “pertencer” inteiramente ao tesouro ou à pérola que encontraram. A beleza do testemunho é, portanto a pertença, não o desapegar-se e deixar tudo. Todo o resto, como conseqüência, torna-se secundário.

Veja abaixo o que já foi escrito sobre o mesmo assunto.




Sinal luminoso


O Senhor sempre suscita na Igreja santos para continuarem a propagar a sua Luz. Nosso Instituto, com a sua Graça, gozou da presença amável e santa de Tarsila Ósti, que viveu a radicalidade do Batismo, da sua consagração religiosa e encarnou o Carisma das Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Tornou-se um sinal luminoso, exemplo de amor e doação ao próximo. A Igreja reconheceu a heroicidade das suas virtudes, concedendo-lhe o título de “Venerável”, faltando poucos passos para a Beatificação. Colocamos, a seguir, na íntegra, o decreto de Venerabilidade, concedida pela Congregação para a Causa dos Santos, emitida no dia 15 de março de 2008.




CONGREGATIO DE CAUSIS SANCTORUM
R O M A N A
BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO DA SERVA DE DEUS

TARSILLAE A CRUCIFIXO OSTI
(in saec: Annae)
RELIGIOSAE PROFESSAE - CONGR. MISSIONAR. A
SS. CORDIBUS IESU ET MARIAE (1895-1958)

DECRETUM SUPER VIRTUTIBUS
“Estou nas mãos do Senhor e quero ficar contente por tudo o que Ele permite. (...) Estou contente com o meu estado (...) Sinto-me feliz pois trabalhei até o fim, até cair por terra. Que seja tudo para a glória dos Sagrados Corações, para a minha salvação, para o bem do Instituto e de todo o mundo”. (Carta à Superiora geral do dia 3 de setembro de 1958 em Proc. Doc. f. 149).
Estas palavras que a Venerável Serva de Deus Irmã Tarsila do Crucifixo-Osti escreveu, podem ser consideradas não somente a síntese da sua vida, como também o seu testamento espiritual.

A Serva de Deus nasceu no dia 6 de dezembro de 1895 em Pola, pertencente, na época, ao Império Austro-Húngaro.

A família da Serva de Deus era cristã, mas não muito fervorosa; o seu sobrenome originário Host, foi adaptado ao italiano Osti.

A menina foi batizada com o nome de Ana, com seis meses de idade – algo excepcional para os costumes do tempo – e recebeu uma educação precária seja no campo religioso, seja no cultural, podendo freqüentar somente o ensino elementar. A instrução insuficiente foi um espinho que sempre a acompanhou. Desde seus primeiros anos de vida, a Serva de Deus demonstrou grande sensibilidade, delicadeza de ânimo, espírito de serviço e recebeu sinais da predileção de Deus. Ana, todavia, para não ir contra o estilo de vida da família, mesmo sentindo desejo, não se aproximava freqüentemente da Eucaristia. A mesma timidez e o mesmo temor reverencial para com os pais impediram- na, por muito tempo, de manifestar os sinais da vocação que ela intuiu – segundo o seu próprio testemunho – na idade de onze anos.

Com a explosão da 1ª Guerra mundial, a maior parte da cidade de Pola foi evacuada e a família da Serva de Deus foi transferida para um campo de refugiados na Hungria, onde dois dos seus irmãos faleceram.

Terminada a guerra e passado o entusiasmo pela união ao Reino da Itália, iniciou em Pola um período de forte crise econômica que abateu também a família da Serva de Deus, e toda a Ístria passou por conflitos sociais e políticos.

Neste contexto de ofensa à dignidade humana, se faz presente a obra das Irmãs dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que começaram a trabalhar no hospital militar e no jardim de infância, abrindo, entre outras obras, um ateliê feminino e um orfanato.

Depois do ano de 1920, a situação da família Osti agravou-se, vivendo privações, tensões e mau-humor. Crescia, no entanto, sempre mais em Ana, a atração para uma vida autenticamente cristã e de consagração. Depois de um breve tempo de namoro, entre lutas com as pessoas que lhe eram próximas, decidiu não adiar mais e, finalmente, aos trinta anos, entrou no Instituto das Irmãs Missionárias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, iniciando o noviciado com o nome de Irmã Tarsila do Crucifixo. Terminado o primeiro ano do noviciado, foi-lhe confiado o serviço no hospital, onde, superada a instintiva aversão, dedicou-se com amor apaixonado à assistência aos doentes. Posteriormente, mesmo depois da consagração definitiva com os votos solenes, perseverou no encargo de enfermeira na própria pátria, gastando a própria vida sem reservas no zelo espiritual e material dos doentes.

Ao mesmo tempo, a sua vida interior se aperfeiçoava sempre mais e se reforçava.

O zelo com o qual Irmã Tarsila constantemente e diligentemente cuidou dos doentes destacou-se sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra foi transferida para Lanciano (Chieti), no encargo de assistência domiciliar e auxílio aos pobres. Neste período delicado escreveu a sua autobiografia, por ordem da Madre Geral.

Três anos depois foi nomeada superiora do pequeno hospital em Piedimonte d’Alife, na província de Caserta. A pobreza era grande e as necessidades imensas, mas as Irmãs, animadas pelo testemunho da Serva de Deus e guiadas pela sua sabedoria materna, doavam como melhor podiam seu serviço fiel e incansável. Nesse período manifestou-se e tornou-se mais grave a doença que, gradualmente, se transformou em dores violentas. Devastada pela metástase e, com o corpo deformado, a Serva de Deus foi transportada para Roma, onde, no dia 26 de dezembro de 1958, depois de receber o Viático e de pedir a bênção da Madre Geral, descansou no Senhor.

Irmã Tarsila do Crucifixo destaca-se, para nós, como uma mulher de suprema fé, de grande piedade e profunda religiosidade, realmente submissa à vontade de Deus, repleta de zelo pela Sua glória, mansa e cheia de bondade, forte e corajosa, particularmente devota da Santíssima Eucaristia, modelo de altruísmo evangélico e de autêntica pobreza.

Continuou a exercitar a esperança e a fortaleza, mesmo quando, por causa da doença, começou a assemelhar-se a um pequeno monstro, com o queixo que quase lhe tocava o peito, formando uma ferida e com a cabeça torta, inclinada para a direita.

Era sempre muito afável e compreensiva para com o próximo e manifestava estas suas qualidades e atitudes, seja durante o trabalho no hospital, seja na comunidade.

A Serva de Deus revelou-se sempre prudente, seja nas suas coisas íntimas, seja como enfermeira, seja como superiora, exercitando o encargo com prudência, doçura e fortaleza.

Ela, mulher justa, demonstrou firmeza e fidelidade aos seus deveres, ininterruptamente, sem omissões, sem cansaço, com uma assiduidade absoluta no trabalho de enfermagem. Mulher de serviço, de oração, de dedicação, de lealdade, de espírito de sacrifício, de serenidade, prudência, respeito para com o próximo, de aceitação das dificuldades, com o heroísmo de uma vida quotidianamente vivida em santidade.

Quanto à temperança, a Serva de Deus se distinguia sempre pelo domínio de si, mansidão, extraordinária doçura, e espírito de penitência.

Todos os textos estão de acordo em afirmar que Irmã Tarsila era muito reservada e que viveu a castidade em forma heróica: ofereceu a sua pureza como um dom místico a ser entregue ao seu celeste Esposo.

O exercício heróico da obediência é evidente em toda a sua vida. Unia a (essa) obediência à humildade, pois amava o anonimato e não gostava de se aparecer, nem procurava aplausos, atribuindo todos os méritos ao Senhor.

Imediatamente depois da morte da Serva de Deus, foi-se solidificando e confirmando a fama de santidade que havia adornado já, durante a vida, a Serva de Deus, permitindo assim, em 1987, com o "Nihil obstat" da Santa Sé do dia 14 de julho de 1987, a abertura do Processo, concluído em 1988 e cuja validade jurídica foi reconhecida pela Congregação para as Causas dos Santos, com decreto do dia 14 de junho de 1991.

Preparada a Positio, foi discutido junto ao Dicastério se a Serva de Deus exercitara as virtudes em grau heróico. No dia 27 de outubro de 2006 realizou-se, com êxito unanimemente positivo, o Congresso peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardeais e Bispos, durante a Sessão Ordinária do dia 4 de março de 2008, ouvida a relação do Exc.mo D. Girolamo Grillo, Arcebispo emérito de Civitavecchia, Ponente (relator) da Causa, reconheceram que a Ven. Serva de Deus exerceu em grau heróico as virtudes teologais, cardeais e as outras virtudes anexas.

Realizada, portanto, uma atenciosa relação de todas essas coisas ao Sumo Pontífice Bento XVI, por parte do abaixo-assinado Card. Prefeito, Sua Santidade, depois de ouvir e aprovar os juízos da Congregação para a Causa dos Santos, ordenou que se preparasse o Decreto sobre as virtudes heróicas da Serva de Deus.

Depois de se realizar tudo isso, segundo os ritos, chamados pelo Sumo Pontífice, o abaixo-assinado Cardeal Prefeito juntamente com o Relator da Causa, eu, Secretário da Congregação e outros membros convocados segundo o costume, o Beatíssimo Padre solenemente declarou: consta que a Serva de Deus Irmã Tarsilla do Crucifixo (no século: Ana Osti), Religiosa professa da Congregação Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, praticou as virtudes Teologais de Fé, Esperança e Caridade, para com Deus e para com o próximo, como também as Virtudes Cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza e as outras anexas para o caso e pelo fim tratado.

O Sumo Pontífice ordenou que se tornasse público este decreto e (de) transcrevê-lo na Ata da Causa dos Santos.

Realizado em Roma, no dia 15 do mês de março do ano do Senhor 2008.

JOSÉ Card. SARAIVA MARTINS
Prefeito

+ MICHAËL DI RUBERTO
Arcebispo titular de Biccari
Secretário

5 comentários:

  1. Que bênção para essa congregação ter entre seus membros pessoa tão santa e fiel. Uma inspiração para as postulantes.

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  2. Lidia, realmente nossa querida Irmã Tarsila é um exemplo de amor e dedicação, simplicidade e candura. Viveu sua consagração com desejo de levar as pessoas que encontrava, especialmente os doentes, ao encontro de Jesus, tinha sede de fazer com que os cansados e aflitos encontrassem a misericórdia do Coração de Jesus. Modelo para todos nós.

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  3. Que bom saber que neste mundo de hoje, temos pessoas que de uma foram ou de outra se dedicam a tranmitir o Amor de Jesus ao mundo. Falo de voces irmãs , e também desta pessoa maravilhosa, a LIDIA, que ajuda voces a montar o blog, não a conheço, mas já me faz sentir como se a tivesse conhecido a muito tempo. Parabens a todos pela doiação e dedicação. Abraços, Joselia

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  4. Quero receber a Santa Irmã Tarsila Osti

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  5. Quero ser devota , quero ser uma leiga

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