quinta-feira, 20 de outubro de 2011

OUTUBRO - MÊS MISSIONÁRIO

CORAGEM DE SONHAR
Entrevista com Irmã Carla R. Simplício


Ir. Carla e as jovens internas

Ir Carla, a sua missão, e a abertura da missão na Tanzânia (África) iniciaram quase juntas. Conte-nos sua experiência (quanto tempo você ficou lá, qual o seu trabalho...).

Para começo de conversa, não posso afirmar quando começou exatamente minha missão, pois este apelo missionário foi sempre uma constante em minha vida, diria que foi o encanto pela vida missionária que me levou à consagração na vida religiosa. E com certeza a vida religiosa me deu a possibilidade de poder ir realizando este sonho que é o da missão e missão “Ad Gentes”.

A abertura da nossa missão na Tanzânia me deu a possibilidade de realizar o grande sonho que alimentei toda minha vida, que era ser missionária na África.

Oficialmente a missão em África se deu em 2000, e na época me encontrava em Roma, cursando o último ano da faculdade de Missiologia. Um ano depois, no dia 29 de outubro, apresentei a minha tese, e quando fui agradecer a Madre Geral pela possibilidade que me dera de estudar, na mesma ocasião me perguntou: você está pronta para partir para África? E eu não queria acreditar, foi uma alegria muito grande, pois via meu sonho tornar-se realidade. E assim no dia 23 Novembro de 2001 parti para Singida (Tanzânia).

Ali temos a nossa casa de noviciado, onde por 9 anos dediquei-me à formação das jovens à vida religiosa. Foi uma experiência muito bonita e gratificante, apesar das dificuldades que se encontram quando se vai em direção a uma realidade desconhecida. De resto, sabemos que a formação à vida religiosa hoje apresenta muitos desafios e muito mais quando estamos diante de um povo, língua, culturas diferentes da nossa. Sem esquecer que também temos que fazer as contas com nossos limites e fragilidades.


El Estor ( Guatemala)

Voce teve uma preparação específica para o trabalho missionário, já esteve fora do Brasil antes? O que você pode partilhar sobre este período?

Sim, posso dizer que recebi uma suficiente preparação, principalmente para o apostolado missionário. Já no Brasil frequentei alguns cursos e depois me aperfeiçoei na Itália, onde vivi por aproximadamente 10 anos. Neste tempo tive a oportunidade de conhecer melhor as fontes da Congregação que nasceu em Roma e está celebrando seus 125 anos de fundação. Neste período também fiz uma experiência de um ano em missões populares, organizadas pelos padres passionistas, e isso me proporcionou a oportunidade de conhecer melhor a realidade de um pais de primeiro mundo. Contemporaneamente realizei alguns estudos, como: de espiritualidade e cultura (Teresianum) catequese missionária, e missiologia (na Universidade Ubaniana) em Roma.

E a sua experiência no Brasil antes de partir?

No Brasil minha experiência também foi muito positiva, deste quando entrei na congregação em 1977, tive a oportunidade de trabalhar com os idosos no asilo, na pastoral paroquial, onde pude estar acompanhando as várias pastorais e grupos diferentes como; liturgia, catequese, pastoral familiar, jovens, pastoral vocacional, escolas e outros segundo a necessidade das comunidades por onde passei. E neste tempo fui realizando os estudos médios. Sempre me encantou muito estar com as pessoas, aprendi muito com elas e me ajudaram muito a entender e amar sempre mais minha vocação e missão como religiosa dos Sagrados corações de Jesus e Maria.


Irmã Carla e as noviças entre as gigantescas pedras da Tanzânia

O que mais marcou sua experiência missionária... dificuldades, alegrias, desafios...

Sou convicta de que dificuldades, alegrias, desafios e outros estão presentes em qualquer vocação e não só dos consagrados e missionários. Quando nos propomos a ser fiel e coerente com o que propomos sempre nos custa. É como navegar contra corrente. As provações nunca faltaram, mas contribuíram muito para meu amadurecimento, prefiro não citar nomes, mas muitas pessoas, a começar pela minha congregação me ajudaram a superar momentos difíceis.

Dificuldades: Na minha experiência missionária, foi ter que deixar a família, minha nação, precisar aprender outra língua, outros costumes, conviver com pessoas de cultura diferente, essa é uma prova de fogo e só se aprende juntos, tirando nossas sandálias, pois Deus nos precede na missão, Ele já esta lá. E o nosso engano é sempre pensar que vamos levar algo novo... levar Deus.

Alegrias: Tive muitas alegrias em minha vida missionária, a primeira foi minha família que sempre me apoiou e encorajou em minha vocação e missão, segundo a de pertencer à congregação Missionária dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que foi amor à primeira vista. Desde que entrei, no Instituto aconteceram muitas mudanças que ajudaram e esclareceram mais nossa missão na Igreja. A terceira é de o Instituto haver-me proporcionado uma preparação adequada e me enviado às missões, também do apoio, confiança e incentivo de meus superiores. Tudo contribuiu para que pudesse realizar meu sonho missionário.

Desafios: O ardor missionário não exclui as dificuldades. O título da nossa conversa esconde uma verdade, porque o sonho é de graça, mas a realidade tem um preço. Todos nós temos o direito de sonhar, mas não a alimentar de sonhos, para que o sonho se torne realidade é preciso enfrentar muitas realidades, lutar pelo que queremos, acreditar e saber esperar. Este foi para mim um grande desafio. Outro desafio foi a abertura a capacidade de adaptar a novas realidades, como o idioma, cultura, clima, alimentação, e costumes. A vida missionária nos desinstala de nosso comodismo, das nossas seguranças. Somos chamados constantemente a fazer a experiência de Zaqueu e isso custa muito para o nosso homem velho. Não posso negar que me custa, mas Deus sempre me tem presenteado com sua graça dando-me a capacidade de adaptação às varias realidades onde estive. Essa presença escondida de Deus na sabedoria e cultura dos povos me encanta, me apaixona!


Noviças em passeio

Sendo brasileira, você já viveu na Itália e na Tanzânia, agora na Guatemala. Que tipo de experiência você pode tirar para sua vida, depois desses anos como missionária dos Sagrados Corações.

Sim, brasileira, mineira muito apegada ao meu barraco fui chamada a viver na Itália, depois na Tanzânia, e agora vivo na Guatemala. São três realidades muito diferentes entre si, e em cada uma delas também fui chamada serviços diferentes e desafiadores, isso mexe muito com nossas estruturas, mas estas realidades abriram em mim muitos horizontes, trouxeram muitos ensinamentos. Em cada uma dessas realidades pude colher muitos aspectos positivos que contribuem muito para a vida pessoal e missionária; ver a realidade de um modo diferente, o encontro com o outro às vezes nos intimida, nos desafia, questiona e muitas vezes amamos acariciar nosso cantinho.

Uma tentação muito grande pela qual precisamos vigiar é o de fazer comparações, medir, pesar as realidades que já conhecemos ou vivemos antes e estamos vivendo agora. Isso é muito prejudicial á missão. Neste aspecto precisamos fazer um salto de qualidade contínuo, “vestir” a realidade do outro, aprender a amar e a admirar o que é importante para o outro. Respeito, solidariedade, fraternidade, acolhimento, escuta são alguns valores indispensáveis quando vamos ao encontro de outra cultura. Neste sentido, estou aprendendo que o missionário deve ser mais preparado para escutar do que para falar, fazer do que mandar, ser do que poder. Graças a Deus, está passando a febre da missão show, fogo-de-palha com cheiro de assistencialismo, distribuidora de... acredito mais em uma missão que é presença como a “vela” que se consome iluminando no silêncio, por mais pequena que seja é um ponto de luz para muitos, indefesos sem voz e vez nesta terra de Deus.

Como Irmã Missionária dos Sagrados Corações, estou aprendendo a ser missionária, e sou muito feliz pela minha vocação e missão e agradeço a Deus por este dom. Não sonho em fazer coisas grandes, desejo, sim, ter um coração grande e capaz de entender o valor de cada coisa. Prefiro falar do grande amor com que Deus sempre me demonstrou, assistindo-me nos momentos difíceis, dando-me fé, discernimento e coragem para tomar decisões no momento certo. Precisamos ser conscientes de que nossa vocação e missão são provadas, purificada lá onde menos imaginamos, aprendemos a ser humildes, a pedir ajuda e, assim, amadurecemos.

Quais suas expectativas e esperanças?

Minha expectativa é de esperança, que nossa congregação possa tornar sempre cada vez mais missionária, não só as Irmãs que são chamadas a partir a deixar a própria terra, mas todas, e cada uma fazendo o melhor possível aquilo que é chamada a fazer. Somos um “punhado” nas mãos de Deus, mas Ele acostuma fazer coisas grandes na vida de quem se dispõe a servi-lo. Que as irmãs jovens sejam corajosas, determinadas e enamoradas de Deus e da missão, sempre disponíveis para servir ao Senhor onde quer que Ele as chama.


Irmã Carla e crianças tanzanianas

Irmã Carla, deixe-nos uma mensagem.

A mensagem que gostaria de deixar para todos os missionários, neste mês a nós consagrados, é de ter coragem e de olhar para longe, existem outros horizontes que reclamam por nossa presença. Às vezes a missão é partir, outras vezes a missão é ficar... o importante é que estamos na vontade de Deus, as duas realidades exigem fé.

Deus não chama a todos para fazer coisas extraordinárias, mas nos chama a fazer de maneira extraordinária cada coisa. A vida é uma oportunidade única, e vale a pena vivê-la com intensidade. Imagine que cada minuto que passa é uma despedida. E que só o presente é em teu poder para dar o melhor de si. Nesta estrada muitos se cansam, desanimam, dão marcha ré, outros até dizem que a vocação saiu de moda... e que a missão é utopia! Não!!! E se assim fosse prefiro continuar fora da moda, e a sonhar como Jesus sonhou.

A todas as pessoas que acessam o nosso blog fica uma proposta: seja missionário onde você estiver, seja orgulhoso de tua Fé, defenda-a, indiferentemente do seu estado de vida ou vocação, você é chamado a dar razões do teu acreditar.

A você jovem que sonha e acredita em um mundo melhor e se sente atraída para a missão venha se unir a nós realizando sua vocação missionária na Congregação das Irmãs Missionárias dos Sagrados corações de Jesus e Maria.

Um beijo no teu coração!
Ir. Carla R. Simplicio

Um comentário:

  1. Irmãs, parabéns pelo trabalho dedicado a evangelização, e ao preparo de muitas jovens. Se não ficar nelas a semente de ser uma seguidora , vocacionada, com certeza, já estará implantado no coração de cda uma, a certeza de que existe um IDEAL maior: JESUS CRISTO. Abraços,
    Joselia Belinovski

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