segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A palavra de Deus na vida da igreja

Estamos no mês da Bíblia, portanto todos nós somos convidados a dar uma atenção especial à Sagrada Escritura, e para aprofundar nosso estudo e reflexão  vale a pena retomar a mensagem do Sínodo sobre a Palavra de Deus.

Síntese de Gianfranco Ravasi (trad. J. Konings)

A palavra de Deus na vida da igreja

[...] É uma mensagem que confiamos antes de tudo a vós, pastores, aos tantos e generosos catequistas e a todos os que são guias na escuta e na leitura amorosa da Bíblia. Para vós queremos delinear a alma e a substância deste texto, para que cresçam e se aprofundem nosso conhecimento da Palavra de Deus e o amor que lhe dedicamos.
São quatro pontos cardeais no horizonte que vos convidamos a conhecer e que expressamos por meio de quatro imagens.

Antes de tudo temos a voz divina. Ela ressoa na origem da criação, rompendo o silêncio e dando origem à maravilha do universo. É uma voz que, depois, penetra na história, ferida pelo mundo do pecado humano e envolta de sofrimento e morte. Voz que evoca o Senhor caminhando com a humanidade, para lhe oferecer a sua graça, sua aliança, sua salvação. Voz que depois cresce até as páginas da Sagrada Escritura, que hoje lemos na igreja sob guia do Espírito Santo, que a esta e a seus pastores é dado como luz da verdade.

Além disso, como escreve São João, “a Palavra se fez carne” (1,14).  E assim vemos aparecer o Rosto. É Jesus Cristo, Filho de Deus eterno e infinito, mas também homem mortal, ligado a uma época histórica, a um povo, a uma terra. Ele vive a existência penosa da humanidade até a morte, mas ressurge glorioso e vive para sempre. É ele que torna perfeito nosso encontro com a Palavra de Deus. É ele que nos revela o “sentido pleno” e unitário das Sagradas escrituras, que fazem com que o cristianismo seja uma religião que tem no seu centro uma pessoa, Jesus Cristo, revelador do Pai. É ele que nos faz entender que também as Escrituras são “carne”, isto é, palavras humanas que se podem compreender e estudar no seu modo de expressar-se, mas que guardam no seu interior a luz da verdade divina que só com a ajuda do Espírito Santo podemos vivenciar e contemplar.

É o mesmo Espírito de Deus que nos conduz ao terceiro ponto cardeal do nosso itinerário, a  Casa da palavra divina, isto é, a Igreja, a qual, como sugere São Lucas (At 2, 42), se ergue sobre quatro colunas idealizadas.
- Em primeiro lugar, o “ensinamento”, ou seja: ler e compreender a Bíblia no anúncio feito a todos, na catequese, na homilia, por meio de uma proclamação que envolve mente e coração.
- Depois, a “fração do pão”, ou seja, a Eucaristia, fonte e vértice da vida e da missão da igreja. Como ocorreu naquele dia em Emaús, os fiéis são convidados a nutrir-se, na liturgia, à mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo.
- Uma terceira coluna são as “orações” com os “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3, 16). Temos assim a liturgia das horas, oração da igreja destinada a ritmar os dias e os tempos do ano cristão. Há também a Léctio divina, a leitura orante da Sagrada Escritura, capaz de guiar, na meditação, na oração, na contemplação, ao encontro com Cristo, a Palavra de Deus vivo.
- Enfim, a “comunhão fraterna, pois para sermos verdadeiros cristãos não basta sermos “os que ouvem a Palavra de Deus”, mas devemos ser “os que põem em prática” no amor eficaz (Lc 8, 21). [...].

Assim chegamos à última imagem de nosso mapa espiritual. É a estrada na qual a Palavra de Deus se encaminha. “Ide e tornai discípulos todas as nações, ensinando-as a observar o que eu vos tenho mandado.... O que ouvistes, ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os terraços” (Mt 29, 19-20; 10,27). A Palavra de Deus deve correr pelas estradas do mundo que hoje são as da comunicação informática, televisiva e virtual. A Bíblia deve entrar nas famílias, para que os pais e os filhos a leiam e com ela rezem, e para que ela lhes seja uma lâmpada para os passos no caminho de seu existir (cf. Sl 119, 105). As Sagradas Escrituras devem também entrar nas escolas e nos âmbitos culturais porque, durante séculos, tem sido a referência principal da arte, da literatura, da música, do pensamento e da própria ética comum. Sua riqueza simbólica, poética e narrativa a transforma em estandarte de beleza, quer pela fé, quer pela própria cultura, num mundo amiúde desfigurado pela brutalidade e pela feiura.

Mas a Bíblia nos apresenta também o suspiro de dor que sai da terra, vai ao encontro do grito dos oprimidos e do lamento dos entristecidos. Ela traz no vértice a cruz na qual Cristo, só e abandonado, vive a tragédia do sofrimento mais atroz e da morte. Exatamente por esta presença do Filho de Deus, a escuridão do mal e da morte é iluminada pela luz pascal e pela esperança da glória. Mas nas estradas do mundo caminham conosco também os irmãos e irmãs das outras igrejas e comunidades cristãs que, embora na separação, vivenciam uma unidade ainda que não plena, pela veneração e pelo amor que têm à Palavra de Deus. Ao longo da estrada encontramos muitas vezes homens e mulheres de outras religiões que escutam e praticam fielmente os ditames de seus livros sagrados e que conosco podem edificar um mundo de paz e de luz porque Deus quer que “todos” os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. (1Tm 2, 4).

Queridos irmãos e irmãs, guardai nas vossas casas a Bíblia, lede, aprofundai e compreendei plenamente suas páginas, transformai-as em oração e testemunho de vida, escutai-a com amor e fé na liturgia. Criai o silêncio para escutar com eficácia a Palavra do Senhor e guardai o silêncio depois da escuta, para que ela continue a morar, a viver e falar a vós. Fazei-a ressoar no início de vosso dia, para que Deus tenha a primeira palavra, e deixai-a ecoar em vós ao anoitecer para que a última palavra seja de Deus.

Lectio Divina com a Pastoral da Esperança -
 Paróquia Sag. Coração - Brooklin (SP)

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