terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ANO DA FÉ

Com a declaração do “Ano da Fé (11 de outubro 2012 a 11 de outubro 2013), pelo nosso Papa Bento XVI, aproveitando esse “tempo de graça”, queremos aprofundar esta questão fundamental  da nossa vida, a Fé.
A fé possibilita uma vida fecunda porque através dela entra-se em contato com a fonte da vida. A Sagrada Escritura nos apresenta numerosos personagens que tiveram vidas tão ricas de significado, tão fecundas que marcaram e foram um sinal de transformação para o seu tempo, e o que mais impressiona é que esta fecundidade ultrapassou também o seu tempo e atingiu inúmeras gerações. Faz pensar na promessa feita a Abraão, chamado o “Pai da fé”: [...] “engrandecerei o teu nome” [...] “Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,2-3). Pensar com profundidade nestas palavras não pode deixar de causar na vida prática uma revolução. É muito grande esta promessa. Os que tiveram a coragem de crer viram suas vidas transformadas, engrandecidas por uma força que ultrapassava  qualquer perspectiva. Não é necessário  fazer algo extraordinário ou estranho à vida, mas descobre-se  algo que está dentro e que não se percebia antes, uma força, um dom original, singular e que o contato com esta realidade faz mudar o próprio modo de pensar e de agir, possibilitando uma mudança interior. Essas pessoas tiveram a disposição, escutando essa voz, de mudar suas vidas, abandonando seus próprios pequenos projetos, mesquinhos e egoístas, para seguir o grande projeto de Deus.
Podemos começar nossa reflexão com o Salmo 112, que reflete a vida do homem justo: Como seria seu coração, seus sentimentos e os frutos de sua vida.
 
CORAÇÃO APOIADO NO SENHOR
Estudar o termo coração na Sagrada Escritura é uma grande aventura reveladora, pois é o termo mais usado. Partindo desta constatação abre-se um leque que vale a pena estudar e contemplar. É muito interessante perceber que na maioria das vezes o termo usado não se refere ao órgão físico. Quer expressar realidades interiores do homem nas mais diversas situações e estado de espírito.
Em primeiro lugar o homem bíblico relaciona este termo, em várias passagens com conhecimento; compreender, conhecer, saber. Designa no semântico como: pensamento do coração, projetos e vias do coração. Temos então no Eclesiástico: “Pôs a luz em seus corações, para lhes mostrar as grandezas de suas obras” (Eclo 17,7).
A luz é dada ao coração para compreender. O coração é tido então como sede da inteligência donde procedem as ações conforme a treva ou a luz que há nele. E o Senhor é o perscrutador do coração. O poeta convencido disto exclama: “Podes sondar-me o coração [...]” (Sl 17,3).
A palavra coração designa também memória. A memória no sentido de recordar, vigiando para ser fiel, característica fundamental da religião de Israel. Os israelitas são um povo de memória. Os mais velhos tinham que contar para os mais novos os grandes feitos do Senhor. “Reconhece hoje e medita em teu coração que não existe um outro Deus além do Senhor” (Dt 6,4). A memória solidifica o coração na fidelidade especialmente na prova.
O termo relaciona também aos sentimentos, em especial, ódio, amor alegria, desejo e gratidão. Assim temos: “[...] amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração” (Dt 6,5); “O meu coração exulta no Senhor [...]” (1Sm 2, 1); “Por isto meu coração se alegra [...]” (Sl 16, 9); “Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo [...]” (Sl 84, 3)¹.
Esse rico significado do termo ganha uma nova conotação quando o salmista do Salmo 112 diz que o coração do justo está apoiado no Senhor e, por isto, ele não teme notícia más e nem o inimigo. A expressão “não teme” é repetida duas vezes. “O interior do homem que vive na fé o projeto de Deus adquire confiança até atingir a inteligência, a memória e os sentimentos”. A confiança atinge então o mais profundo do ser, deixando-o em paz, apoiado no Senhor.
Desde o Gênesis o homem é tentado a desconfiar de que o Senhor pode fazer por completo feliz. Movido por este sentimento tomou uma atitude fatal, de experimentar uma realização fora dele. Fazendo isto comprometeu seu equilíbrio interior e sentiu medo de Deus² (Gn 3,10). A partir de então, é necessário lutar para recuperar a confiança original de passear com o Senhor no jardim de sua vida com toda confiança.
O justo durante sua vida passa por este processo de confiança, de que o seu Criador possui todos os requisitos para sua felicidade, e que, apesar da luta para a realização do seu projeto, luta que às vezes compromete a própria vida, o Senhor não o abandonará nem na vida nem na morte³. “Ainda que um exército se acampar junto a mim não temerá meu coração” (Sl 27,3).
¹Cf. TESSAROLO, Andréa. Theologia Cordis: appunti di Teologia e Spirtualità del Cuore di Gesù, Bologna: EDB, 1993, p. 21-29.
²Cf. GRENZER, Matthias. O Projeto do Êxodo, São Paulo: Paulinas, 2004, p. 20.
Irmã Leonilde da Silva
 





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