"O evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar e este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas sim a todos os batizados" (Mensagem do Papa Bento XVI para o dia Mundial das missões de 2011). Reportamos a seguir o testemunho da experiência de dois estudantes de Teologia da PUC-SP, o Hechilli, seminarista e a Regina, leiga. A Missão foi coordenada por Dom Esmeraldo B. de Farias, então Bispo de Santarém-PA.
Hechilli de Brito
A 5ª
experiência missionária realizou-se de 15 de dezembro de 2011 a 22 de janeiro
de 2012 na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Almeirim (diocese de
Santarém, no estado do Pará, região Norte do Brasil, que integra a Amazônia) e
contou com a participação de 82 missionários, sendo 02 missionárias leigas, 04
religiosas, 02 frades do Instituto Emaús, sendo um deles padre, 02 candidatos
ao diaconato permanente, 03 diáconos, 01 irmão padre da comunidade Taizé, 07
padres diocesanos, 01 religioso, 59 seminaristas e D. Esmeraldo. Da diocese de
Santarém, foram 17 seminaristas maiores e 04 jovens que se prepararam para o
propedêutico. 38 seminaristas vieram dos Estados de: CE, RN, PB, PE, BA, ES,
MG, TO, RJ, SP, GO, PR E RS. Dom Esmeraldo acompanhou os primeiros cinco dias e
o final da primeira etapa.
Esta experiência missionária foi
dividida em duas etapas, a primeira de 15 de dezembro a 03 de janeiro, a
segunda de 04 a 18 de janeiro. Na primeira etapa visitamos toda a cidade de
Almeirim que esperava ansiosamente nossa visita. Foi uma grande surpresa ver
uma cidade de 15 mil habitantes receberem com tanta alegria os missionários
vindos de diversos Estados do Brasil; alguns diziam semelhante ao velho Simeão:
“Nestes dias a nossa Almeirim está vendo a salvação do Senhor”. As famílias
abriam suas casas e seus corações para acolherem os missionários.
Nestes 45 dias que fiquei no Pará (Amazônia) pude fazer uma grande experiência de Deus de uma forma nunca experimentada por mim. As famílias que nos acolheram em suas casas eram como se conhecessem a cada um de nós há muitos anos. Eles sorriam e se alegravam ao receber os missionários em seu meio, éramos pra eles a presença viva do Cristo Jesus; passei por algumas famílias e todas elas simples que ofereciam tudo que tinham em suas casas, não só alimentação, mas o principal: a presença durante todo o tempo que permanecemos com elas; conversavam, falavam de suas dificuldades e esperanças, às vezes eu tentava dar uma palavra de conforto e os convidava a permanecerem firmes no serviço do Reino de Deus. Eu dizia que da mesma forma que Deus abençoou Abraão no Carvalho de Mambré, por sua acolhida aos três homens que lhe visitaram, Deus daria a cada família a graça do dom da vida, e vida digna, pois eles acolheram aqueles que foram enviados por Cristo. Não por que merecemos ser enviados, mas por que fomos “conquistados por Cristo Jesus” (cf. Fl 3,12) e ao sermos conquistados por Ele, nós nos tornamos inquietos e desejamos levar a todos esse Jesus que vai aonde mais precisam dele: nas aldeias, periferias, no meio dos leprosos, à margem da sociedade etc.
O lema da experiência missionária era
“Fui conquistado por Cristo Jesus” (Fl 3,12). Depois de alguns dias refletindo
sobre essa experiência do Apostolo Paulo, eu pensava: “somente quem é
conquistado é capaz de cometer loucuras por quem o conquistou”. Sair de casa
nas férias, deixar mãe, irmãos, amigos e todos os confortos habituais para ir a
um lugar que não conhecia, não sabia onde ficaria e de que maneira seria
hospedado, os riscos de andar de barco, pois nossa viagem pelo rio, de Santarém
a Almeirim, foi de 19 horas e todas as comunidades visitadas no interior só
chegávamos através de barcos, canoas, rabetas, voadeiras etc. No dia 01 de
janeiro quase morri, pois o barco que estava deu um problema e começou a
afundar no meio do rio Amazonas. Naquele dia percebi a aflição dos discípulos
de Jesus. Mas em todos os momentos desta experiência eu confiei na providência
divina que nunca me desampara. Posso hoje dizer com alegria “Fui conquistado
por Cristo Jesus”.
Participei de uma
Experiência Missionária
Maria Regina Graciani
Na metade do ano de 2011, nasceu em meu coração o desejo de celebrar as festividades de final de ano, particularmente o Natal de uma forma diferente. Meu coração ansiava por um Natal de verdade. Um Natal onde o Menino Deus se fizesse um com seu povo de maneira mais concreta e palpável. E isto se deu de uma forma totalmente inusitada, na Amazônia.
Por meio do
convite do Hechilli, amigo do curso de Teologia, que freqüento na PUC de São
Paulo, tive a graça de fazer parte deste grande grupo missionário. Visitamos casa por casa das 8 comunidades de
Almeirim, bem como das 50 pequenas comunidades ao longo de rios afluentes do
grande Amazonas: Chicaia, Paru e
Arrayolos. Foram visitadas aproximadamente 5.000 famílias em 40 dias de
atividade, que incluíram o período do Natal e do Ano Novo.
O lema desta
missão, do Apóstolo Paulo, grande missionário do Evangelho: “Fui conquistado
por Cristo Jesus” – Fl 3,12 – constava na camiseta que toda a equipe utilizava
nas visitas e no cartaz-calendário entregue em cada casa e expressa que é o
próprio Cristo quem nos alcança, nos envolve e nos concede a graça de sermos
participantes de sua vida e missão.
A hospitalidade e acolhida feita aos missionários foi bastante calorosa. Por meio das visitas de casa em casa, encontros com crianças, jovens, famílias, catequistas, lideranças de comunidade, e por meio de celebrações, novenas e orações, o convívio com o povo simples da região nos proporcionou surpreendentes manifestações do Senhor. Partilhas de vida, muitas histórias... histórias de luta, de sofrimento, e, também, de fé na Providência Divina e muita esperança... Pude perceber que há uma grande sede de Deus, muitas expectativas, mesmo naqueles que não freqüentam a Igreja de forma regular.
Chamou minha
atenção o fato de que nos momentos de oração, a gratidão a Deus por tudo que
Ele concede era sempre a primeira intenção colocada por todos. Extraordinária
lembrança do Criador que tudo providencia, testemunhando a fé do povo simples,
apesar de todas as dificuldades enfrentadas (e que são inúmeras). Fiz a
experiência de que em uma realidade totalmente diferente daquela habitual,
longe de nossa zona de conforto, muitas reflexões nos fazem pensar no quanto
temos e no quanto devemos agradecer a Deus por tudo. “Um coração agradecido
atrai a si mais graças de Deus”.
Devo
destacar também o trabalho pastoral leigo, em sua maioria, feito pelas
mulheres, que com muito zelo e fé, animam as pequenas comunidades na periferia
da cidade ou nas comunidades ribeirinhas da região. Com simplicidade, dedicação
e muita oração, assumindo responsabilidades dentro e fora da Igreja, são elas
que continuam a manter viva a fé deste povo no meio de uma região muito
extensa, onde o padre consegue celebrar apenas uma missa por ano.
Os grupos se deslocam de suas casas por meio de barcos para chegar às capelas feitas de madeira, como a maioria das casas de lá. À luz da Palavra de Deus, celebram o culto dominical em comunidade. E se fortalecem em um convívio fraterno e próximo, apesar das grandes distâncias enfrentadas.
Como nos lembra o documento de Aparecida, todo católico batizado é chamado a ser discípulo e missionário de Jesus Cristo e de sua missão, que é a instauração do Reino de Deus entre os homens. A própria Igreja tem por missão evangelizar, seguindo o mandato de Jesus.
Teria muito mais a dizer... porém, finalizo agradecendo ao bom Deus, como o povo simples da Amazônia sempre o faz, a possibilidade de ter vivenciado tal experiência que muito marcou minha vida. Aproveito, ainda, para lançar um convite a quem se sentir disposto a se deixar ser conduzido pelos planos de Jesus: a vida em missão é para todos. Seja você, também, um missionário: o coração de todo Homem é terra de missão. Seja em casa, na própria Igreja ou, ainda, na Amazônia.
P.S.: nossa paróquia esteve presente de alguma forma na
missão. A guirlanda de balas oferecida pelo Pe. Antonio, e que levei na viagem,
fez o maior sucesso entre as crianças na confraternização de Natal realizada
após a celebração da santa missa.
Hechilli, Dom Esmeraldo e Regina |