segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Experiência Missionária em Almerim - PA

"O evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar e este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas sim a todos os batizados" (Mensagem do Papa Bento XVI para o dia Mundial das missões de 2011). Reportamos a seguir o testemunho da experiência de dois estudantes de Teologia da PUC-SP, o Hechilli, seminarista  e a Regina, leiga. A Missão foi coordenada por Dom Esmeraldo B. de Farias, então Bispo de Santarém-PA. 

Experiência Missionária

Hechilli de Brito

            A 5ª experiência missionária realizou-se de 15 de dezembro de 2011 a 22 de janeiro de 2012 na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Almeirim (diocese de Santarém, no estado do Pará, região Norte do Brasil, que integra a Amazônia) e contou com a participação de 82 missionários, sendo 02 missionárias leigas, 04 religiosas, 02 frades do Instituto Emaús, sendo um deles padre, 02 candidatos ao diaconato permanente, 03 diáconos, 01 irmão padre da comunidade Taizé, 07 padres diocesanos, 01 religioso, 59 seminaristas e D. Esmeraldo. Da diocese de Santarém, foram 17 seminaristas maiores e 04 jovens que se prepararam para o propedêutico. 38 seminaristas vieram dos Estados de: CE, RN, PB, PE, BA, ES, MG, TO, RJ, SP, GO, PR E RS. Dom Esmeraldo acompanhou os primeiros cinco dias e o final da primeira etapa.
            Esta experiência missionária foi dividida em duas etapas, a primeira de 15 de dezembro a 03 de janeiro, a segunda de 04 a 18 de janeiro. Na primeira etapa visitamos toda a cidade de Almeirim que esperava ansiosamente nossa visita. Foi uma grande surpresa ver uma cidade de 15 mil habitantes receberem com tanta alegria os missionários vindos de diversos Estados do Brasil; alguns diziam semelhante ao velho Simeão: “Nestes dias a nossa Almeirim está vendo a salvação do Senhor”. As famílias abriam suas casas e seus corações para acolherem os missionários.


            Nestes 45 dias que fiquei no Pará (Amazônia) pude fazer uma grande experiência de Deus de uma forma nunca experimentada por mim. As famílias que nos acolheram em suas casas eram como se conhecessem a cada um de nós há muitos anos. Eles sorriam e se alegravam ao receber os missionários em seu meio, éramos pra eles a presença viva do Cristo Jesus; passei por algumas famílias e todas elas simples que ofereciam tudo que tinham em suas casas, não só alimentação, mas o principal: a presença durante todo o tempo que permanecemos com elas; conversavam, falavam de suas dificuldades e esperanças, às vezes eu tentava dar uma palavra de conforto e os convidava a permanecerem firmes no serviço do Reino de Deus. Eu dizia que da mesma forma que Deus abençoou Abraão no Carvalho de Mambré, por sua acolhida aos três homens que lhe visitaram, Deus daria a cada família a graça do dom da vida, e vida digna, pois eles acolheram aqueles que foram enviados por Cristo. Não por que merecemos ser enviados, mas por que fomos “conquistados por Cristo Jesus” (cf. Fl 3,12) e ao sermos conquistados por Ele, nós nos tornamos inquietos e desejamos levar a todos esse Jesus que vai aonde mais precisam dele: nas aldeias, periferias, no meio dos leprosos, à margem da sociedade etc.

            O lema da experiência missionária era “Fui conquistado por Cristo Jesus” (Fl 3,12). Depois de alguns dias refletindo sobre essa experiência do Apostolo Paulo, eu pensava: “somente quem é conquistado é capaz de cometer loucuras por quem o conquistou”. Sair de casa nas férias, deixar mãe, irmãos, amigos e todos os confortos habituais para ir a um lugar que não conhecia, não sabia onde ficaria e de que maneira seria hospedado, os riscos de andar de barco, pois nossa viagem pelo rio, de Santarém a Almeirim, foi de 19 horas e todas as comunidades visitadas no interior só chegávamos através de barcos, canoas, rabetas, voadeiras etc. No dia 01 de janeiro quase morri, pois o barco que estava deu um problema e começou a afundar no meio do rio Amazonas. Naquele dia percebi a aflição dos discípulos de Jesus. Mas em todos os momentos desta experiência eu confiei na providência divina que nunca me desampara. Posso hoje dizer com alegria “Fui conquistado por Cristo Jesus”.

                                      


Participei de uma Experiência Missionária
Maria Regina Graciani

             Na metade do ano de 2011, nasceu em meu coração o desejo de celebrar as festividades de final de ano, particularmente o Natal de uma forma diferente. Meu coração ansiava por um Natal de verdade. Um Natal onde o Menino Deus se fizesse um com seu povo de maneira mais concreta e palpável. E isto se deu de uma forma totalmente inusitada, na Amazônia.

            Por meio do convite do Hechilli, amigo do curso de Teologia, que freqüento na PUC de São Paulo, tive a graça de fazer parte deste grande grupo missionário. Visitamos casa por casa das 8 comunidades de Almeirim, bem como das 50 pequenas comunidades ao longo de rios afluentes do grande Amazonas:  Chicaia, Paru e Arrayolos. Foram visitadas aproximadamente 5.000 famílias em 40 dias de atividade, que incluíram o período do Natal e do Ano Novo.
            O lema desta missão, do Apóstolo Paulo, grande missionário do Evangelho: “Fui conquistado por Cristo Jesus” – Fl 3,12 – constava na camiseta que toda a equipe utilizava nas visitas e no cartaz-calendário entregue em cada casa e expressa que é o próprio Cristo quem nos alcança, nos envolve e nos concede a graça de sermos participantes de sua vida e missão.

            A hospitalidade e acolhida feita aos missionários foi bastante calorosa. Por meio das visitas de casa em casa, encontros com crianças, jovens, famílias, catequistas, lideranças de comunidade, e por meio de celebrações, novenas e orações, o convívio com o povo simples da região nos proporcionou surpreendentes manifestações do Senhor. Partilhas de vida, muitas histórias... histórias de luta, de sofrimento, e, também, de fé na Providência Divina e muita esperança... Pude perceber que há uma grande sede de Deus, muitas expectativas, mesmo naqueles que não freqüentam a Igreja de forma regular.

            Chamou minha atenção o fato de que nos momentos de oração, a gratidão a Deus por tudo que Ele concede era sempre a primeira intenção colocada por todos. Extraordinária lembrança do Criador que tudo providencia, testemunhando a fé do povo simples, apesar de todas as dificuldades enfrentadas (e que são inúmeras). Fiz a experiência de que em uma realidade totalmente diferente daquela habitual, longe de nossa zona de conforto, muitas reflexões nos fazem pensar no quanto temos e no quanto devemos agradecer a Deus por tudo. “Um coração agradecido atrai a si mais graças de Deus”.
            Devo destacar também o trabalho pastoral leigo, em sua maioria, feito pelas mulheres, que com muito zelo e fé, animam as pequenas comunidades na periferia da cidade ou nas comunidades ribeirinhas da região. Com simplicidade, dedicação e muita oração, assumindo responsabilidades dentro e fora da Igreja, são elas que continuam a manter viva a fé deste povo no meio de uma região muito extensa, onde o padre consegue celebrar apenas uma missa por ano.

            Os grupos se deslocam de suas casas por meio de barcos para chegar às capelas feitas de madeira, como a maioria das casas de lá. À luz da Palavra de Deus, celebram o culto dominical em comunidade. E se fortalecem em um convívio fraterno e próximo, apesar das grandes distâncias enfrentadas.

            Como nos lembra o documento de Aparecida, todo católico batizado é chamado a ser discípulo e missionário de Jesus Cristo e de sua missão, que é a instauração do Reino de Deus entre os homens. A própria Igreja tem por missão evangelizar, seguindo o mandato de Jesus.

             Teria muito mais a dizer... porém, finalizo agradecendo ao bom Deus, como o povo simples da Amazônia sempre o faz, a possibilidade de ter vivenciado tal experiência que muito marcou minha vida. Aproveito, ainda, para lançar um convite a quem se sentir disposto a se deixar ser conduzido pelos planos de Jesus: a vida em missão é para todos. Seja você, também, um missionário: o coração de todo Homem é terra de missão. Seja em casa, na própria Igreja ou, ainda, na Amazônia.

P.S.: nossa paróquia esteve presente de alguma forma na missão. A guirlanda de balas oferecida pelo Pe. Antonio, e que levei na viagem, fez o maior sucesso entre as crianças na confraternização de Natal realizada após a celebração da santa missa.


Hechilli, Dom Esmeraldo e Regina


 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

QUARESMA DE 2012 - MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI

«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (Heb 10, 24)

Irmãos e irmãs!

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.

Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.



1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.

O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.

O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.

O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.

Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf.Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI
Imagens: internet

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Festa na família religiosa - Jubileu de Prata

Ir. Maria Alice celebra seus 25 anos de Consagração 

"Não foste vós que me escolheste,  fui eu que vos escolhi" (Jo 15, 16)

No dia 16 de fevereiro de 2012 estou completando 25 anos de início de minha Vida Religiosa.
O que dizer??? Tantas coisas...  vou tentar relatar um pouco das descobertas do Amor de Deus e alguns serviços que com a Graça Dele pude e posso realizar em benefício dos irmãos, adultos, jovens e crianças. Acredito que quando Jesus chama alguém para segui-lo na Vida Religiosa, faz um convite para estarmos dispostos a colocar  a própria vida a serviço dos pobres e sofredores, para gerar vida. Seguir a Jesus é um caminho que assumo a percorrer junto com Ele e com Maria, o meu caminhar deve ser tentar viver segundo o seu exemplo. Ele quis estar no meio do seu povo não como aquele que é servido e reverenciado, mas simplesmente como aquele que serve. Por isso eu também quero doar-me a Deus com a minha vida, nas pequenas coisas, nos fatos pequenos ou grandes, que o percurso da caminhada proporciona.


No decorrer destes anos, após a formação religiosa inicial, tive a oportunidade de conviver muitos anos na minha própria comunidade de origem em Ponta Grossa, onde estive de 1991 até 1994; neste período fiz curso de Magistério no Colégio Sagrada Família e auxiliei na catequese da Comunidade Nossa Senhora Medianeira. No início de 1995 fui transferida para São Paulo Capital para trabalhar como diretora e professora da Escola de Educação Infantil das Irmãs dos Sagrados Corações. Nesta cidade vivi sete anos, trabalhando com as crianças e junto com elas descobrindo a beleza e a ternura de Deus, que se revela tão puro e sabiamente no coração dos pequeninos, me recordo os momentos de orações que fazia com elas a pureza das palavras que usavam para se dirigir a Deus. Em São Paulo fiz o Curso de Pedagogia na Universidade Mackenzie.


No ano de 2002 retornei à Ponta Grossa, neste período exerci o serviço de Coordenação da Creche Sagrados Corações, trabalhei junto com os Padres Agostinianos na Pastoral Juvenil, dentro da espiritualidade do Movimento dos Focolares, e auxiliei a comunidade em outros trabalhos que necessitavam de minha ajuda. Em agosto de 2011 junto com a comunidade dos Focolares, formamos um grupo de Gen 4 na Creche Sagrados Corações. Em outubro de 2011, fui convidada a fazer uma nova experiência como missionária na Guatemala onde estou vivendo atualmente. Sinto-me feliz porque Deus me escolheu e me enviou a esta missão, aqui é outra realidade, um mundo muito diferente do que vivia no Brasil, estou descobrindo um pouco da bela cultura do povo Maya.


Agradeço de todo o meu coração, a minha família por sempre ter me apoiado na minha vocação, as Irmãs dos Sagrados Corações por me acolherem nesta família e por tudo o que a Congregação me proporcionou para que eu crescesse profissionalmente e como pessoa, tudo o que sou hoje, devo a minha Congregação e a todas as pessoas que conviveram comigo nestes anos, pela amizade, confiança e apoio que deram na realização de todos os trabalhos das obras pelas quais fui responsável, as minhas queridas crianças por me ensinarem a ternura e simplicidade de Deus.

Concluo como um poema de Mário Quintana, adaptado para a ocasião:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, já...
Quando se vê, já passaram 25 anos!
25 anos que o Senhor me chamou para consagrar a Ele minha vida...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o Amor que está a minha frente e diria que eu O amo...
E tem mais: não deixaria de fazer algo em beneficio do próximo devido à falta de tempo, por que tempo é a gente que faz.
Uma única coisa peço ao Senhor, que tenha de tempo suficiente para amá-lo, e assim reparar pelas vezes que não amei  de verdade.
Desejo apenas, viver bem o momento presente!  O passado já se encontra na misericórdia de Deus. O futuro? Toda via está em suas mãos!  Eu somente tenho por um instante o presente...


Graças Senhor por teu grande amor, sempre presente em cada instante de minha vida...
Para ver as fotos, clique aqui 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Retiro espiritual em Ponta Grossa - PR


Tempo para aprofundar a intimidade com o Senhor


“O retiro é uma ótima oportunidade para estar mais em contato com Deus através da sua Palavra, dos sacramentos especialmente dos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia e também por meio do silêncio que nos ajuda a contemplar a criação de Deus em cada pessoa e em tudo o que existe na beleza da natureza”. (Ir. G. M.)
Assim se expressa uma das religiosas que participou do retiro, pregado pelo Pe. João Veloso, scj. Foram cinco dias de profunda intimidade com o Senhor e pausa para descansar, orar, refletir sobre a própria vida, a consagração, no silêncio e contato com a natureza, na casa de retiros das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, em Ponta Grossa - PR. 



Algumas Irmãs e Postulantes  deixaram seu testemunho:

“O retiro para mim foi um presente do PAI. Pois a cada novo amanhecer, a cada pôr do sol, a cada nova flor a desabrochar, a cada planta a balançar pelo vento, a cada animalzinho, a cada bichinho a passear, a cada cantarolar dos passarinhos, ou em cada estrela que brilhava no espaço infinito do céu, era como a voz de Deus dizendo que me amava e que tudo havia criado para que seus filhos fossem agraciados pelo seu amor.
Cada palavra do pregador, ou cada experiência no contato com a Palavra da Escritura, ou ainda em cada momento de intimidade  com Jesus Eucarístico era ELE mesmo dizendo que me queria mais perto Dele.E na força do silencio pude me encontrar mais comigo mesma e numa comunicação silenciosa mas ao mesmo tempo muito intensa, pude estar unida às minhas coirmãs, buscando o mesmo objetivo.Resumindo tudo diria a frase de Madre Tereza de Calcutá: " Amor é amar até doer" Sim, pois amor e sofrimento são tão ligados que um não existe sem o outro”. (Ir. F. V. S.) 

“Ter participado do retiro foi momento de graça, presente recebido das mãos de Deus, alegria, paz, experiência do amor de Deus. Tudo manifestava sua presença e o seu amor, fiquei vislumbrada ao ver a perfeição de Deus em tudo o que faz. Meu coração não se conteve só em observar, mas contemplar a beleza de Deus e a cada momento agradecia-O por ter-me “chamado” a estar em sua presença, por fazer parte dessa família religiosa, por estarmos todas unidas para escutar a voz do Mestre e pela oportunidade de sentir o seu amor.
Os momentos mais fortes para mim foram as colocações do Pe. João, primeiro nos convidando a voltar para dentro de nós mesmas, revivendo a nossa história como filhas amadas por Deus, como pessoa que traz consigo limitações e fortalecendo a coragem de deixar que Deus faça parte da nossa história, pois fomos escolhidas, chamadas à vida por Ele. Depois tivemos a oportunidade de reviver o nosso chamado recordando o lugar, o momento, a situação na qual encontrávamos quando fomos chamadas a segui-lo. Deus nos tirou da nossa segurança (família) para ser Ele a nossa segurança, e assim nos capacita com a sua graça a viver o seu seguimento na radicalidade, vivendo os votos de castidade, pobreza e obediência nos abandonando em suas mãos.
Após as colocações, saí ao encontro do Amado e na oração pessoal, percebia que Ele estava presente comigo, recordei os momentos em que Jesus se retirava à sós para orar. Meu coração queimava feito brasa, e mesmo nos momentos de “descanso” ouvia-o me chamar para fazê-lo companhia e não continha o desejo ardente em meu coração... indo ao encontro do Amado. Na intimidade Ele me fez lembrar cada momento vivido, o quanto cresci na caminhada, o que ainda preciso melhorar para viver o abandono total nas mãos de Dele. Emocionei-me muito ao reviver o meu primeiro chamado, o olhar de Jesus, a experiência do seu amor e os cuidados durante todos esses anos para comigo e minha família. A motivação que trago para minha caminhada no seguimento de Jesus é deixar-me modelar por Ele, a fortaleza na oração, vivência de vida fraterna, sendo dócil à ação do Espírito Santo e a necessidade de conversão para servir o Senhor com liberdade e desprendimento estando aberta às necessidades do nosso Instituto e da Igreja, colaborando com a missão. A vida é passageira, somente o amor é eterno para aquele que se coloca à disposição em aprender as lições do Coração do próprio Cristo. O tempo é curto, talvez o amanhã poderá não chegar... Não existe tempo certo para amar, mas existe a certeza que para amar basta querer se abrir ao amor e deixar ser tocado por Ele”. (A. A. O.)


“Quero partilhar a minha experiência que tive com Deus através do retiro. Foram cinco dias de muitas graças, o lugar do retiro em si foi muito especial, contemplei a beleza das flores, os animais, o canto dos pássaros, o sorriso das irmãs que passavam por mim.
Quando silenciamos a nossa voz, podemos ouvir a voz de Deus que fala no nosso interior, é através do silêncio que podemos conversar com Deus assim como conversamos com um amigo, mas é uma conversa diferente que com um amigo podemos olhar nos olhos e com Deus é diferente porque não o vemos, mas podemos sentir a Sua presença em nosso coração.
Foram muitas as experiências fortes que Deus manifestou em meu coração, uma delas foi no início do retiro com a missa, no momento da comunhão senti a presença de Jesus arder em meu coração e pedi com muita fé que Ele curasse todas as minhas dores e tenho certeza que Ele ouviu a minha oração, a Eucaristia é o único remédio que pode curar as nossas feridas, pois é o próprio Jesus que recebemos, Ele vive dentro de nós, depois que recebi Jesus Eucarístico senti uma grande paz.
Outra experiência marcante para mim foi uma palavra que gravei em meu coração: “Faça adoração, meu Filho está sempre presente no sacrário”. Esta frase me ensinou a amar ainda mais Jesus. O silêncio em Deus quando é bem vivido fala mais alto do que qualquer outra voz, porque é o próprio Deus falando diretamente no nosso coração, é uma voz que transforma, liberta, dando um novo sentido à vida”. (V. J. S.)


"No início deste retiro fiz uma prece a Jesus que eu fosse dócil o suficiente para vê-lo passar e poder corresponder com seus apelos.Ficou nítida para mim a presença d’Ele em todos os momentos e lugares, senti que Ele me pedia algo novo, atitudes de mudança, transformação... Eis a graça que pedi: de não fazer somente mais um retiro por fazer e sair do mesmo jeito que entrei, mas me deixar modelar pelo Senhor!
No primeiro dia, fiz uma revisão da minha história, me deixando questionar sem medo de encontrar respostas que poderiam me fazer dar um grande salto em direção à liberdade! Deixei que Jesus curasse algumas feridas do meu coração e percebi o quanto seu amor é imenso. “Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo.” (Is. 43, 4)
Todas as colocações feitas pelo Padre, foram muito boas, em especial, me identifiquei quando ele falava a respeito da vida fraterna; que nós temos o dever de fazer o outro feliz, que estamos em comunidade para cumprir juntas a vontade do Pai e que a nossa fraternidade é nascida do Espírito Santo, dom de Deus. Viver em comunidade é viver o amor e a comunhão. “A caridade jamais acabará.” (1Cor. 13, 8). Creio que tudo cooperou para o bem estar e a oração de todas. O Senhor fez maravilhas e fez com que a chama do Amor ardesse ainda mais em nossos corações!” (R. S. R.)


"Quanto mais maduros, mais livres para servir".
"Quem é maduro enfrenta desafios. Quem não é maduro se torna desafio para os outros".
"Maria: um coração que aprendeu a perder. Ela perdeu tudo!"
"Jesus foi livre para andar e estar com qualquer tipo de pessoas com total liberdade".
"Quem não reza não consegue viver a castidade".
"Cuidar do humano afetivo se não a graça não age". (Ir. L. S.)

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